Antes de entrar para o estúdio de gravação de seu novo álbum, chamado apenas 18 – referência ao número de faixas –, o DJ americano, multiinstrumentista e gênio da música eletrônica Moby foi assediado por sua gravadora com mimos dignos de um pop star. Ele poderia ter quantos cantores de gospel quisesse e tantas cordas fossem necessárias para compor sua esplêndida mistura de batidas digitais, orquestrações, baixos encorpados e suplicantes vozes negras. O motivo de tanto luxo é simples. Seu disco anterior, Play, de 1999 – o mais bem-sucedido álbum do gênero –, atingiu a marca de dez milhões de cópias vendidas em todo o mundo. Sem contar que, no total, suas canções foram utilizadas em mais de 200 comerciais e filmes de Hollywood. Moby, no entanto, recusou os privilégios de superprodução. Preferiu continuar compondo com seus “músicos preferidos”, os dois computadores G4 Macintosh, que mantém no estúdio caseiro montado num loft perto dos escombros do World Trade Center, em Nova York. E acertou de novo, produzindo um CD ao mesmo tempo dançante e emotivo, que alia sonoridades contemporâneas à grande tradição da música negra americana.

Como no trabalho anterior, 18 segue uma receita que Moby vem depurando desde o hit Go, de 1991, feito sobre o tema da série televisiva Twin Peaks. Basicamente, ele compõe a partir de samples – amostras de músicas preexistentes –, que podem vir de uma sonata ou da linha de baixo de um funk sem importância. Agora, em vez de apelar para os timbres de velhos cantores de blues, Moby recorreu a vozes negras desconhecidas, que ele descobriu em discos de igreja ou em raridades encontradas por amigos em sebos empoeirados. O resultado da mistura continua comovente. Uma prova logo no início do disco é a belíssima
In this world, na qual o lamento sampleado da cantora Jennifer Price
(“Deus, não me deixe aqui sozinha”) é repetido num crescendo de
pianos e cordas.

Existem várias outras faixas no estilo. Bons exemplos são One of these mornings, com créditos para a voz soul de Dianne McCaulley, e Another woman, canção com toques da house music, intervenções de percussão, piano e dos vocais de Barbara Lynn. “A razão de sempre usar vocais sampleados é simplesmente por gostar de boas vozes, não importando se são de 50 anos atrás ou até mais recentes”, afirma Moby. Mas também existe gente de carne e osso cantando em 18. E bem famosa. Em Harbour quem aparece é a irlandesa Sinéad O’Connor, que mostra ter mais afinidade com Moby do que a cultivada careca. Apesar do registro mediano, ele também assume os microfones em algumas faixas, como na etérea e quase falada Sleep alone, escrita cinco dias antes do fatídico 11 de setembro, aliás dia de seu aniversário. A música narrava um acidente aéreo e tinha o verso: “Pelo menos morremos juntos, de mãos dadas, voando pelo céu.” Após o incidente, foi mudado para “pelo menos estávamos juntos”. Além de bruxo sonoro, Moby é premonitório.