01.jpg
EXPULSA
A saltadora grega Paraskevi Papachristou fez um comentário
racista pelo Twitter e pediu desculpas pelo Facebook

Uma espécie está ameaçada de extinção. Sentado no sofá da sala, com o controle remoto numa mão e uma lata de cerveja na outra, o espectador passivo começa a virar fóssil a partir dos Jogos de Londres. Com o aumento exponencial no número de usuários das redes sociais na internet nos últimos quatro anos, agora o torcedor faz parte do show. Comenta, interage com os atletas e também é fonte de informação. Cerca de 500 milhões deles têm acesso aos 400 milhões de mensagens e fotos postadas diariamente no Twitter. E quase um bilhão poderá acompanhar as competições e interagir com atletas, imprensa, comitês internacionais e confederações por meio do Facebook.

Escoladas, as empresas que ainda seduzem os espectadores passivos resolveram não nadar contra a correnteza. Maior corporação de mídia instalada no Parque Olímpico, o conglomerado americano de tevê NBC chamou para perto de si as duas maiores redes sociais. O Twitter mandou a Londres um de seus funcionários para servir de ligação com a equipe de mídia social da NBC. Com isso, a emissora espera ser a primeira a saber e divulgar o que de importante é postado por atletas, órgãos oficiais e torcedores. Com o Facebook, o acordo resultou na criação de um “talkímetro”, espaço no canto da tela que vai mostrar, em tempo real, os assuntos mais comentados pelos usuários.

02.jpg
ALÔ?
A técnica de natação espanhola Hollie Bonewit-Cron se comunica pelo tablet 

A interação entre a mídia tradicional com as redes sociais gera benefícios para os dois lados. Jornais e tevês ganham uma audiência atraída pelo que vê no site, e estes ganham impulso para saltos empresariais. A empresa de pesquisa eMarketer estima que o Twitter vai embolsar US$ 260 milhões em publicidade neste ano. Valor bem distante dos US$ 3,15 bilhões que o Facebook faturou em 2011. Mas empresas como General Electric e Procter & Gamble já compraram espaço publicitário, apostando no futuro do site. Somados, o sucesso de público e o interesse empresarial fazem com que muita gente por aqui se refira aos Jogos de Londres como a Olimpíada do Twitter.

Esse movimento tem a bênção oficial. “Nós encorajamos os atletas a compartilhar informações pelas redes sociais”, diz Andrew Mitchell, porta-voz do Comitê Olímpico Internacional. Segundo ele, o órgão não impõe restrições nem monitora o que vai parar nas redes sociais. “Mas, como em outros aspectos da vida, há riscos. Os atletas precisam entender isso e agir com bom senso.” A saltadora grega Paraskevi Papachristou não teve esse cuidado. Postou no Twitter um comentário racista. “Com muitos africanos na Grécia… pelo menos os mosquitos do Nilo ocidental vão comer comida caseira!”, escreveu na quarta-feira 25. Foi uma alusão a um vírus proveniente do rio Nilo que já matou uma e infectou outras cinco pessoas na Grécia. Foi expulsa da delegação no mesmo dia. Ela apelou ao Facebook para atenuar a pena, sem sucesso. Outra atleta que esteve a 140 caracteres de uma catástrofe foi a nadadora australiana Stephanie Rice, que postou comentários considerados homofóbicos. Sua pena foi menor, mas pesou no bolso: perdeu o patrocínio da montadora britânica Jaguar.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

03.jpg
AUDIÊNCIA
As fotos do australiano Matthew Mitchan fazem sucesso

Esses casos acenderam as luzes amarelas para atletas e confederações de todo o mundo. No caso do Brasil, o comitê olímpico nacional segue e repassa as orientações do COI, mas os coordenadores de cada esporte têm autonomia. É o que faz Hortência, que responde pelas seleções de basquete. “Nós orientamos as meninas para não abrir muito a intimidade. A única proibição é não comentar o caso Iziane. Sobre isso, falo eu”, diz a coordenadora, referindo-se à atleta que foi desligada da delegação por ter levado o namorado à concentração. Precavida, a velocista Rosangela Silva evita publicar polêmicas. “Uso meu perfil apenas pra dizer por onde passeei, as coisas que comprei”, diz.

No quesito fotos interessantes no Twitter é difícil derrotar os australianos, especialmente Matthew Mitchan, medalha de ouro nos saltos ornamentais em Pequim-2008. Na sua conta, há imagens dele sobre uma instalação gigante com os anéis olímpicos e sentado em uma ema de plástico, por exemplo. As redes sociais ganharam uma importância tão grande na Olimpíada que é com dor no coração que alguns atletas abrem mão delas. Na segunda-feira 23, Louis Smith, revelação da ginástica inglesa, informou que iria abandonar o Twitter durante sua preparação. Deixou desamparados 12 mil seguidores, que agora têm de matar o tempo acompanhando gente como LeBron James, Cesar Ciello ou Yelena Isinbaeva. Tudo em primeiríssima mão.

04.jpg
VAIDADE
A atleta de salto ornamental Melissa Wu posta fotos pessoais

05.jpg

04.jpg

 

05.jpg


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias