Somando pressão e torcida, a corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon, provocou o Supremo Tribunal Federal com uma declaração que carrega boa carga de verdade. No seu entender, a opinião pública vai julgar o STF pelo desfecho que dará ao processo do “Mensalão” a ser votado nesta semana. Colocado como uma espécie de divisor de águas da credibilidade do sistema legal, encarado como o julgamento do século e embalado por articulações políticas a favor e contra, o processo acusa 38 réus, entre os quais o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, de tráfico de influência e uso de dinheiro público para comprar apoio parlamentar. Dirceu veio a receber a alcunha de “chefe da quadrilha” pelo relator do caso. O assunto sacudiu o governo Lula em várias ocasiões e arrastou-se por anos na burocracia da Justiça até chegar a esse momento decisivo. Deve galvanizar as atenções da nação nos próximos dias. Nos autos constam mais de 50 mil páginas de documentos, investigações e depoimentos distribuídos por 234 volumes que detalham o esquema. Uma verdadeira enciclopédia do condenável “modus operandi” de certos personagens que atuam e atuaram nas esferas do poder. Juristas e advogados em sua maioria apontam que será decerto uma grande surpresa, de consequências imprevisíveis, se a Suprema Corte não apontar nenhuma condenação, tamanha a quantidade de provas levantadas. Um placar informal do pendor do voto de cada ministro mostra o STF dividido. As estratégias montadas pelos envolvidos – cada um deles tentando transferir a responsabilidade para o outro – demonstram que daqui por diante será cada um por si. Promessas de vídeos bombásticos, provas e contraprovas surgem a toda hora como último recurso para protelar o julgamento. Mas acabou a fase de apelações. Nessa reta final o Brasil ainda terá de esperar mais um pouco pela sentença. Apenas o voto do relator, Joaquim Barbosa, terá mais de mil páginas e sua leitura deverá durar quatro dias. Os demais juízes terão em média duas sessões até a conclusão final. De um modo ou de outro em breve o destino dos mensaleiros estará selado.  


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