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TRAGÉDIA
O italiano Tommaso Lotto havia acabado de chegar ao Brasil.
Ladrões assaltaram o carro em que estava e o mataram com um tiro

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Com entrevistas de emprego previamente agendadas, o bancário italiano Tommaso Lotto, 26 anos, se sentia próximo de realizar o sonho de morar no Brasil e escapar da crise econômica que assola a sua terra natal (leia matéria na pag. 110). Mas o futuro foi abortado logo no segundo dia de sua estada na cidade de São Paulo. Na sexta-feira 19, Lotto morreu após receber um tiro no peito desferido por um assaltante, a bordo de uma moto, em uma avenida do Itaim Bibi, zona sul da capital paulista. Ele estava no banco de carona de um amigo, filho de um ministro espanhol e morador da cidade, não entendeu as palavras do criminoso, tentou sair do carro e acabou alvejado. Lotto foi mais uma vítima do aumento da criminalidade que atingiu o estado mais rico do País, principalmente a capital. Números de assassinatos, roubos, arrastões a restaurantes e condomínios subiram exponencialmente no primeiro semestre de 2012, em comparação ao mesmo período do ano passado, situação agravada por seguidos atentados contra agentes de segurança e operações desastradas protagonizadas pela Polícia Militar. “Lamentavelmente, estamos vivendo uma escalada da violência”, admitiu o secretário estadual de Segurança Pública Antônio Ferreira Pinto, ao comentar a morte de Lotto.

Junho foi um mês especialmente cruel para moradores de São Paulo, quando 434 pessoas foram assassinadas no Estado, um índice 34% maior na comparação com o mesmo período do ano passado. Oito policiais militares foram mortos quando estavam de folga, crimes atribuídos extraoficialmente a uma ação orquestrada pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) em resposta à morte de seis integrantes da facção criminosa em uma ação da Rota, no mês de maio. Cinco bases da corporação foram alvejadas, e outros 15 ônibus incendiados na região metropolitana da capital. Especialistas apontam falhas de gestão que colaboraram para a situação de insegurança exacerbada vivida pelos moradores de São Paulo, após sucessivas quedas nos níveis de homicídios na última década. “Há várias explicações para a queda dos homicídios nos últimos 11 anos, mas em vez de analisá-las para manter esse nível, a Secretaria da Segurança Pública comemorou e fez uso político”, afirma Guaracy Mingardi, doutor em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP) e ex-subsecretário nacional de Segurança. “Agora há uma nova onda, sem que saibamos a resposta da gestão pública para enfrentá-la.”

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EXECUÇÃO
O publicitário Ricardo de Aquino, 39 anos, foi assassinado
por policiais militares porque não parou seu carro

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As últimas semanas foram marcadas por ações trágicas de PMs paulistas que resultaram na morte de inocentes, sendo o caso mais emblemático a execução do publicitário Ricardo Prudente de Aquino, 39 anos, morto no dia 18 de julho pelos soldados Luis Gustavo Teixeira, de 27 anos, e Adriano Costa da Silva, 26, e pelo cabo Robson Tadeu do Nascimento Paulino, 30. O trio alega que Aquino não respeitou a sinalização para parar seu carro por outra patrulha da PM, em uma praça do Alto de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, o que provocou uma perseguição de dez minutos até a colisão entre o carro do publicitário e a viatura policial. Os policiais afirmam ter atirado contra Aquino ao confundir um celular que a vítima segurava na mão com uma arma. Os disparos foram feitos a curta distância. O coronel Hudson Camilli ainda tentou justificar a tragédia dizendo que a operação foi “tecnicamente correta”, apesar dos pedidos de desculpas à família. Em caso semelhante, na mesma noite, Bruno Vicente de Gouveia, 19 anos, morreu ao ser baleado por PMs em Santos, que atiraram 25 vezes contra o carro em que ele estava.

Mortes como essas motivaram o Ministério Público Federal a entrar na Justiça com uma ação civil pública, na semana passada, em que pede o afastamento do atual comando da PM de São Paulo. “Muita arbitrariedade tem sido cometida pelas autoridades por causa de supostos desacatos”, afirma Matheus Baraldi Magnani, procurador da República. Em sua página no Facebook, o atual comandante da corporação, coronel Roberval Ferreira França, afirmou que a instituição não vai se acovardar, acrescentando que sua tropa é “uma das mais bem preparadas e ativas polícias do País”. Que essa alegada eficiência seja usada para combater os criminosos.

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