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"Tocador de tpífaro"
Pintado por Manet em 1866, reflete o fascínio do pintor
pela cultura ibérica e a influência de Velásquez

Em 1874, um influente jornal parisiense acusou a existência de um grupo de jovens pintores boêmios, sociáveis e avessos às regras acadêmicas que vigoravam nas belas-artes. Graças à sua tendência de observação da natureza com base em impressões pessoais e sensações visuais imediatas, foram chamados de “impressionistas”. Irreverentes e escandalosos para os padrões da época, esses jovens artistas colecionavam recusas nos salões oficiais de Paris e acabaram inventando seu próprio circuito expositivo, o Salão dos Recusados. O impressionismo foi um divisor de águas retratando os prazeres mundanos da vida em Paris e documentando a cidade das luzes no que ela tem de melhor – seus cafés, boulevards, teatros, bailes e grandes noitadas –, enquanto a arte estava preocupada em representar as glórias da guerra e da história. Tal escola inaugurou a arte moderna porque detonou a visão perspectiva, tradição que persistiu por cinco séculos, olhando o mundo com os mesmos olhos. Na exposição “Paris: Impressionismo e Modernidade”, que chega a São Paulo, obras de Manet, Renoir, Degas, Toulouse-Lautrec, Sisley, Monet, Van Gogh e Cézanne, entre outros, lançam um olhar livre sobre esse novo mundo que nasce antes do século XX. O mundo moderno.

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LEVEZA
O mundo do balé foi retratado por Edgar Degas em dezenas de pinturas

Composta em seis módulos, três dedicados às atrações da cidade e outros três à vida no campo, a mostra reflete bem a divisão que ocorria no seio da vida do século XIX. “A cronologia da exposição será a mesma do Musée d’Orsay: 1848-1914”, explica à ISTOÉ Caroline Mathieu, chefe do departamento de conservação do Musée d’Orsay e curadora responsável pela mostra. “Durante esse período, muitas revoluções mudaram completamente a civilização, fazendo com que a organização em núcleos urbanos prevalecesse sobre os núcleos de organização agrária. Nessa época, a cidade de Paris se configurou como uma capital moderna.” Enquanto Charles Baudelaire escrevia sobre as multidões que inundavam Paris, Manet escandalizava a sociedade burguesa pintando seu “Almoço da Relva” (1863) e a cidade atraía artistas, arquitetos, escritores e músicos de todos os cantos da Europa, como o holandês Vincent van Gogh, que se muda para Paris em 1886 e é introduzido no absinto por Toulouse-Lautrec. “A capital francesa era o lugar para se estar, o destino dos jovens artistas que queriam fazer parte do avant-garde”, diz Caroline.

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NATUREZA
Paisagens de Cézanne feitas no sul da França
anunciam a visão de um mundo geométrico

Paris era o encontro de diversas culturas e atraía multidões. No segmento urbano da exposição, o visitante encontrará vistas do Sena e da Notre Dame, observadas por Pisarro, cenas da vida burguesa retratadas por Rodin, as bailarinas de Degas e as dançarinas e prostitutas de Toulouse-Lautrec. Mas havia também aqueles que eram avessos ao frisson urbano e saíram de Paris em busca da natureza. Esse foi o caso de Cézanne, que pintou em Aix-en-Provence, no sul da França, paisagens de natureza geométrica que alguns anos depois viriam a inspirar o cubismo. Caso também de Van Gogh, que, antes de completar dois anos em Paris, decidiu mudar-se para Arles, onde ainda continuou frequentando a vida noturna e pintou “La Salle de Danse à Arles”, em 1888. Há ainda casos mais radicais, como Gauguin, que trocou a Europa pela Oceania, em busca do “selvagem e do primitivo”. “É a totalidade do Museu d’Orsay, com todas as suas expressões pictóricas, que estamos levando o Brasil!”, afirma a curadora.

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CIDADE X CAMPO
Acima, “Sala de Dança em Arles”, pintada por Van Gogh em 1888, 
recém-chegado a Paris; abaixo, o jardim de ninfeias que 
Claude Monet cultivou e pintou em Giverny, em 1899

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FOTO: RMN (Musée d’Orsay)/Hervé Lewandowski


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