MAJESTADE Depois de mumificado, o faraó recebeu uma máscara de ouro

A trama palaciana começou há três milênios, quando uma criança de nove anos passou a governar o Egito. Nos suntuosos corredores da corte respiravam-se conspiração, ambição e traição: Estado e clero disputavam o poder e o pequeno faraó Tutancâmon assumira o lugar de seu pai, Akenathon, provavelmente assassinado a mando de sacerdotes prejudicados por sua austera administração. Passou-se uma década até que o rei Tutancâmon, chamado de Tut nos círculos palacianos e já então com 19 anos, morresse misteriosamente. Milhares de anos depois o seu sarcófago foi localizado por um arqueólogo britânico e a humanidade até hoje se fascina por cada peça nova que surge desse quebra-cabeça. Tutancâmon se popularizou como se popularizam as histórias, antigas ou atuais, que envolvem assassinatos não decifrados – sobretudo se há sacerdotes, esposa e riqueza metidos neles. Prova disso é que agora, apesar de estarmos ainda em março, já foram vendidos pelo menos 200 mil ingressos para a exposição que será aberta somente em novembro no The O2 Buble, o mais novo centro cultural de Londres. O que haverá na mostra: novas peças de Tutancâmon e novas provas e contraprovas de seu assassinato. Arqueólogos ou meros curiosos que pisarem o local da exposição o farão com uma pergunta na cabeça: quem matou o rei Tut? O mistério da morte faz-lhe a fama. A fama realimenta o mistério de sua morte.

A sua tumba foi descoberta na década de 20 pelo arqueólogo Howard Carter. Encontraram a múmia do faraó completa, com uma máscara dourada e um tesouro de artefatos de ouro, e, a partir daí, exames e mais exames foram realizados – foi possível até recriar a verdadeira fisionomia do faraó. Os cientistas não imaginavam, no entanto, que, ao darem a Tut o seu rosto, estariam ao mesmo tempo alimentando o mistério de sua morte. Tanto mistério que o próprio Carter chegou a se irritar com sua equipe: “Será que não temos competência de desvendar quem matou Tut? Será que teremos de montar um FBI especializado para a arqueologia?” E assim se fez. Investigaram o caso o ex-agente federal americano Greg Cooper, o especialista em inteligência de Utah, Mike King, e a escritora Violaine Vanoyeke, autora de uma trilogia sobre a vida e a morte de Tutancâmon.

Ankhesenamon
A esposa de Tut só poderia viver um novo amor se ficasse viúva
Horemheb
O chefe do Exército queria concentrar todo o poder em suas mãos
Ay
O primeiro-ministro criticava a falta de experiência do jovem Tut
Maya
O tesoureiro real estava envolvido no plano por ter acesso aos cômodos

O passo inicial foi dado quando o Museu do Cairo aprovou que o crânio do faraó fosse examinado através de raio X: encontrou-se um fragmento de osso, o que fez aumentar as especulações de que sua morte fora provocada por agressão – os especialistas asseguraram que o famoso golpe recebido na cervical foi aplicado enquanto a vítima dormia ou estava em posição horizontal. Recorrendo-se à medicinal legal, soube-se, porém, que essa ferida não lhe teria causado morte instantânea, tendo Tutancâmon sofrido de terríveis dores por pelo menos dois meses e meio, até entrar em coma devido à hemorragia cerebral. Segundo Violaine, “as radiografias e o relatório da autópsia revelam a existência de um hematoma calcificado”. As suspeitas desse crime recaem sobre gente que seria faraó na sucessão de Tut – Ay, primeiro-ministro, e Horemheb, chefe do Exército. Os investigadores americanos Cooper e King também cogitaram da possibilidade do crime ter sido planejado por sua esposa, Ankhesenamon, e Maya, o tesoureiro-real – naquilo que seria uma verdadeira tragédia shakespeareana. O fato é que a morte de Tutancâmon ainda é um dos mais saborosos mistérios da cultura da humanidade e continuará fascinando enquanto a próxima peça desse milenar quebra-cabeça não for encontrada