No dia 15 de junho, há pouco mais de um mês, o desembargador Tourinho Neto publicou uma sentença que quase colocou o contraventor Carlos Cachoeira em liberdade. “Os jogos de azar não constituem crime, e sim contravenção, um ilícito menor”, escreveu o juiz. “A prática é largamente aceita pela sociedade em geral, ainda que seja ilegal”, pontuou. Se dependesse de Tourinho Neto, não só Cachoeira estaria em liberdade, como os grampos da Operação Monte Carlo teriam sido invalidados. Cachoeira só continuou preso porque outra operação da Polícia Federal, a Saint-Michel, impedia sua libertação.

Depois disso, Andressa Morais, esposa do contraventor, concedeu entrevistas comparando seu marido a um “preso político”. Disse ainda que, por não ter cometido crime hediondo, ele já deveria estar em liberdade. Não deu certo. E há até rumores de que Cachoeira tenha escrito uma carta direta ao STF, sugerindo uma liberdade vigiada, com uma tornozeleira eletrônica.

Ocorre que a Operação Monte Carlo, a cada dia, assume ares sombrios. Responsável direto por sua prisão, o juiz Paulo Augusto Moreira Leite pediu afastamento do caso, relatando preocupação com a sua família. Depois disso, a procuradora Léa Batista, que conduziu o caso pelo Ministério Público, recebeu ameaças de um cunhado de Cachoeira, Adriano Aprígio, que foi preso. Agora, nesta semana, o policial Wilton Tapajós Macedo, que investigou a quadrilha, foi assassinado em Brasília. Se isso não bastasse, outro delegado que atuou em Goiás, Hylo Marques Pereira, está desaparecido.

Ainda que seja precipitado ligar a morte de Wilton Tapajós à Operação Monte Carlo, o quadro que vai se formando é preocupante. “Não estamos diante de contraventores menores, mas do crime organizado que ameaça o Estado”, tem dito o senador Pedro Taques (PDT-MT), uma das principais vozes da CPI. Ele tem razão. O jogo é muito mais do que um ilícito menor, como definiu o desembargador Tourinho Neto. E o risco que se deve evitar é o de mexicanização do País. 


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