Um dossiê do governo do Paraná desembarcou
esta semana nos gabinetes do Congresso. Com
carimbo de “confidencial”, é um conjunto de seis depoimentos prestados em março no Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos, da Polícia Civil paranaense. Em uma semana, a polícia ouviu seis testemunhas, todas ex-funcionários do deputado
Gustavo Fruet (PSDB), sub-relator de movimentação financeira da CPI dos Correios. Eles acusam o parlamentar de ficar com uma parcela de seus salários. Estrela ascendente na política, Fruet atribui tudo a uma armação de seu maior inimigo, o governador Roberto Requião (PMDB). “É abuso de autoridade e perseguição”, diz Fruet. “Entrei com uma representação na Procuradoria Geral da República contra o governador.”

Uma das testemunhas, o aposentado Waldomiro Pizato, 73 anos, diz no depoimento que começou a trabalhar com o então vereador Fruet na Câmara Municipal de Curitiba, em 1997. Ele “recebia” o salário e “entregava os valores nas mãos de Gustavo, o qual lhe dava apenas R$ 200”. Localizado por ISTOÉ, Pizato afirma que esse depoimento é uma armação. “Isso é uma barbaridade, um absurdo”, lamentou Pizato. Ele garantiu nunca ter falado em devolução de dinheiro. Quem disse isso, informa, foi outra pessoa que foi depor, de nome Zé. “Isso é a política”, diz Pizato.

As outras testemunhas se recusam a falar sobre seus depoimentos. Zé é o policial militar da reserva José Carlos da Silva. Na secretária eletrônica do celular dele ouve-se um recado político: “Você ligou para José Carlos, o homem do povo de Curitiba e do Estado do Paraná.” Já o aposentado, João Valter Maier, que também acusa o deputado no depoimento, não quis confirmar o que teria dito à polícia. “Só falo depois de ouvir meu advogado.” Uma das testemunhas, Vilson José da Silva, disse que não pagava mensalinho a Fruet. “Mas eu ouvi falar que ele cobrava.” Vilson, filiado ao PMDB, não nega a mágoa de Fruet por ele ter deixado o partido. “Fruet saiu e eu continuei seguindo a minha linha.”

O chefe da assessoria de comunicação de Requião, José Benedito Trindade, nega que o dossiê tenha sido montado por inspiração do governador. “Estou de saco cheio dessas coisas.” Requião não se pronunciou. No entanto, ele é o autor da máxima “campanha de alto nível é para político de rabo preso. Eleição é a hora de mostrar o podre de cada um”. Ao que tudo indica, caberá à Procuradoria da República dizer quem está podre.