Aos 76 anos, ele é o último
autêntico do PMDB. E também
o mais novo pré-candidato à
Presidência da República da
temporada. Cabelos brancos e olhos azuis, o gaúcho Pedro Simon passou os últimos dias fazendo o que mais gosta: brigou forte com a ala governista do partido, articulou suas forças em longos telefonemas, fechou um acordo com o ex-governador Anthony Garotinho para tê-lo como vice. Fazendo política, enfim. No caso dele, com P. Maiúsculo. Inscrito oficialmente como candidato na convenção do PMDB, Simon entra na sucessão com a primeira missão de resolver o impasse entre os peemedebistas que querem e os que não querem ter candidato a presidente. “O PMDB está dividido, as dificuldades são grandes”, admite o velho Turcão, como é carinhosamente chamado pelo eleitorado gaúcho. “Mas, se eu não aceitasse a tarefa, a tese da candidatura própria morreria”.

Simon já mexe com o partido. Na terça-feira 23, o governador licenciado de Santa Catarina, Luiz Henrique, telefonou para o presidente do PMDB, deputado Michel Temer. “Ele provocou um maremoto por aqui”, disse. “A nossa tendência
agora é ir à convenção e ratificá-lo como o nosso nome.” O anúncio de Luiz Henrique já é o suficiente para que a alternativa Simon seja levada a sério. Na convenção que os peemedebistas realizaram no dia 13 de maio, a tese de que
o partido não deveria ter candidato próprio à Presidência venceu por apenas 48
votos. Santa Catarina tem 41 convencionais; há duas semanas, votou em massa contra Garotinho. Se mudar de lado, pode virar o jogo. E há outros dispostos a
fechar com Simon, a começar pelos governadores do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, e do Paraná, Roberto Requião.

Articulados esses apoios, Simon começou na semana passada a mexer no
vespeiro dos adversários. Procurou o senador José Sarney (AP) e o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), os chefes dos governistas. Neles, deixou sua marca. Bateu na mesa, disparou ataques ao adesismo e desnudou suas estratégias. “Eles falam que são contrários à candidatura própria para fortalecer o PMDB nos Estados. Mas, em Alagoas, o Renan vai apoiar Teotônio Vilela Filho, que é do PSDB. E, no Maranhão, o Sarney apóia a filha, Roseana, que é do PFL. O que eles querem são cargos e benesses.”

ISTOÉ teve acesso com exclusividade a uma lista entregue pela cúpula governista do PMDB à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Ela traz pedidos de nomeações de funcionários de confiança, apadrinhados de deputados ligados a Renan e Sarney. Com 11 páginas, ela traz nomeações efetivamente já feitas e “pendências”. Diz, por exemplo, que ao senador Maguito Vilela, de Goiás, interessa dar a Ubiratan Dantas de Medeiros um “cargo em comissão de chefe de Transportes” no Ministério da Saúde. Na mesma lista está Maria da Penha Lino, presa por envolvimento na máfia dos sanguessugas, indicada como assessora especial do Ministério da Saúde por indicação do deputado José Divino, do Rio de Janeiro.

Na quinta-feira 25, Simon e Garotinho inscreveram a sua chapa. Em contra-ataque, a cúpula governista reuniu a Executiva do partido e conseguiu adiar a convenção, inicialmente marcada para o dia 11, para o dia 29 de junho. A idéia é fazer com que as convenções estaduais aconteçam primeiro, formalizem alianças partidárias e impeçam a candidatura própria. Se conseguirem, Simon será lançado à lista de pré-candidatos abatidos que tem o governador Germano Rigotto, Garotinho e o ex-presidente Itamar Franco. “Pelos cargos, os governistas não aceitariam como candidato próprio nem Jesus Cristo”, constata Garotinho.