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Jack, o Estripador, o homem que no final do século XIX aterrorizou a região de Whitechapel, na zona leste de Londres, ao assassinar de maneira brutal cinco prostitutas em circunstâncias semelhantes e no espaço de apenas quatro meses, se alinha entre os criminosos mais famosos da história. Sua identidade, ­contudo, nunca foi conhecida. O pouco que se sabe é que ele era canhoto e versado em anatomia, pelas perfeitas incisões que fazia no corpo das vítimas, violentamente mutiladas. Sua figura mitológica ganha agora novos contornos com o lançamento do livro “O Diário de Jack, o Estripador” (Universo dos Livros), da pesquisadora inglesa Shirley Harrison. Trata-se de um diário de 63 páginas supostamente escrito pelo assassino e encontrado em 1992. Seu interesse, no entanto, não reside nos detalhes dos crimes, mas na possibilidade de revelar quem foi Jack. Entre os 29 suspeitos mais famosos, apareceria no topo da lista James Maybrick, um abastado comerciante de algodão e morador da cidade de Liverpool. 

O aparecimento dessas anotações obrigou a Scot­land Yard a levar em conta mais esse detalhe do caso que a polícia metropolitana não solucionou um século atrás. Foi arregimentada então uma legião de especialistas para atestar sua veracidade. O veredicto foi que o diário é uma falsificação moderna, afirmação apenas intuída, mas nunca provada: a tinta usada para escrever continha substâncias comuns ao final do século XIX e o tipo de álbum manuscrito era ­encontrado na época vitoriana. Após uma pesquisa de cinco anos, Shirley não desistiu de sua crença na autenticidade do documento.

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VERACIDADE
O diário revelado em 1992 teria sido escrito pelo
comerciante de algodão James Maybrick

Entre as peças principais desse quebra-cabeça, aparecem conclusões inquietantes. O diário confirma, por exemplo, o fato aceito pelos pesquisadores de que a arma usada para matar Elizabeth Stride e Catherine Eddowes, terceira e quarta vítimas (ambas assassinadas no dia 30 de setembro de 1888, no espaço de apenas 45 minutos), teria sido uma faca diferente daquela utilizada nos crimes anteriores. Ela seria um modelo arredondado, propriedade de Elizabeth – as prostitutas carregavam armas para se proteger. Anota James Maybrick em seu caderno, numa tentativa de criar versos sobre seus feitos: “Sir Jim/lata pequena vazia/cigarreira/rapidamente/minha brilhante faca (…)”. O fracasso ele vai deixar claro mais adiante, é o de arrancar a cabeça da vítima com cortes mais profundos. Imensamente alimentado pela imprensa, que descobriu a veia sensacionalista justamente nessa época, “O Caso Jack” despertaria o interesse do escritor Arthur Conan Doyle, criador do detetive Sherlock Holmes. Pelo seu método dedutivo, ele concluiu que o assassino teria relação com os EUA porque a famosa carta que ele enviara à Agência Central de Notícias, em 25 de setembro, tinha muito americanismo. Esse é outro detalhe que reforça a tese de Shirley, pois Maybrick viajava muito a trabalho para a América do Norte e casou-se com uma americana. Foi ela, aliás, quem o matara envenenado de arsênico, num desfecho que só aumenta a curiosidade em torno de fatos reais imersos na mais completa fantasia.

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