Os nerds venceram. Sim, são os heróis de nosso tempo. Na minha infância, os heróis eram implacáveis e durões. Tex Willer, Ken Parker, Zorro, Fantasma, Lanterna Verde, todos eram destemidos, viris, fortes e autossuficientes. Ok, podemos considerar que Clark Kent e Peter Parker, respectivas identidades secretas do Super-Homem e do Homem-Aranha, eram tecnicamente dois nerds, sendo o último de uma complexidade psicanalítica até. Mas eram exceções.

Espiando literatura ligeira sobre o tema “nerds”, descubro várias e curiosas hipóteses sobre a origem do termo. Uma diz que o nome pode ter surgido da gíria “nurt” (louco), que teria derivado para “nurd” e depois “nerd”. Outra sugere que tenha surgido a partir da sigla de Northern Electric Research and Development (usada nos uniformes dos caras que trabalhavam no laboratório de tecnologia do Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento da Companhia Northern Electric, do Canadá). Há ainda a suspeita de que o nome tenha se originado de um personagem de um livro infantil americano dos anos 50 – um sujeito esquisitão e antissocial chamado… Nerd. Com o passar do tempo, a palavra nerd passou a enquadrar pessoas ou grupos de pessoas com interesses ou hábitos muito específicos. Assim, entram nessa classificação desde fãs de gibis e adeptos da série “Jornada nas Estrelas” até colecionadores de discos antigos e filatelistas. Em meados dos anos 80, o termo ganhou força por conta do sucesso do filme “A Vingança dos Nerds”, em que um grupo de “manés” resolve enfrentar os bambambãs da faculdade.

Em outros tempos o nerd era apenas o “cdf”, o cara da turma desprovido de malandragem e malícia, óculos fundo de garrafa, desajeitado com as mulheres e visual demodê. Enfim, um desadaptado social com inteligência acima da média. Mas os tempos mudaram. O nerd ficou pop. Bill Gates, o poderoso empresário, se confessou nerd em palestras que se tornaram célebres mundo afora. Steve Jobs, quase santificado após sua morte, também poderia entrar nesse rol sem maior dificuldade. E mesmo Mark Zuckerberg, o criador do Facebook, também poderia ser enquadrado como tal. O “nerd” de hoje é o mesmo personagem que um dia já teve alcunhas como bocó, otário ou mané entre nós, brazucas. Só que o bocó hoje tem uma arma poderosíssima – a expertise tecnológica, o domínio das artimanhas digitais. E isso faz dele quase um semideus.

Mas não se alarme se ouvir seu filho adolescente gritando “bazinga!” em lugar de “putzgrila!” ou “yes!” ou “chupa!” por aí. Afinal esse é o bordão de triunfo nerd do personagem Sheldon Cooper, da série “The Big Bang Theory” (A Teoria do Big Bang), sucesso absoluto entre crianças, adolescentes e adultos mundo afora. Sheldon é um nerd típico dos anos 2010 – inteligente ao extremo, tecnológico, irônico, rabugento e arrogante. Tripudia dos supostos idiotas que vivem ao seu redor (para um nerd, todos ao seu redor são perfeitos idiotas).

Filmes às dezenas têm sido feitos com personagens semelhantes. O próprio Harry Potter poderia ser classificado como um nerd, embora o seu temperamento aguerrido e o dom da mágica o coloquem noutro nicho. Livros também há aos montes com este tema. Recentemente fui presenteado com um “Piadas Nerds”, cujos autores Ivan Baroni, Luiz Fernando Giolo e Paulo Pourrat se confessam integrantes do clube e revelam suas preferências nerds, tais como “Arquivo X”, “O Mundo de Beakman” e “Chaves”.

Entre as muitas pérolas desse livro, estão adágios como: “Coração de mãe nerd não se engana, consulta a Wikipédia”. Ou os ótimos epitáfios nerds: “Enfim off-line”; “Fui! E sem backup…”. Ou “E agora, Mestre dos Magos, como eu volto para casa?”
Os malandros já eram, os nerds venceram.
BAZINGA!