O telefone tocou na sala de Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, um dos acionistas controladores do Grupo Ipiranga e presidente da Federação de Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), na tarde de sexta-feira 16. Do outro lado da linha, um executivo do Banco Pátria, instituição paulista especializada em aquisição de empresas, tinha boas notícias. Confirmava a proposta formal de compra da Ipiranga pelas gigantes Petrobras, Ultra e Braskem. Ali começava a maratona de dois dias de reuniões para fechar o negócio, envolvendo cerca de 80 pessoas, entre sócios e executivos. No domingo, os números monumentais vieram a público: o Ipiranga foi vendido por US$ 4 bilhões (R$ 8,3 bilhões), numa das maiores transações já feitas no País.

Com 74 anos de existência, o Ipiranga é o segundo maior distribuidor nacional de combustíveis, com 4.240 postos. Também atua na área petroquímica. Em 2006, faturou R$ 31 bilhões e lucrou R$ 534 milhões. Tão grande quanto as cifras envolvidas no negócio foi a repercussão no mercado. Antes do anúncio oficial, as ações do grupo dispararam na Bovespa, um indício de uso de informações privilegiadas por pessoas participantes das negociações. É o chamado crime do colarinho branco. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já está atrás dos possíveis espertinhos. Outra questão importante é a concentração do mercado de distribuição de combustíveis no País. Com o negócio, a Petrobras passa a operar 880 postos Ipiranga no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Sua rede sobe para 7.080 postos e, com isso, passa a deter 37% do mercado. No Nordeste, a fatia chega a 41%. Teria poder, portanto, para determinar preços e fragilizar a concorrência. “Essa concentração pode ser prejudicial a concorrentes e consumidores”, avalia Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura. O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, não vê motivo para alarme. “Ficamos com apenas 25% do negócio da Ipiranga”, afirmou, ao anunciar a transação com o presidentes da Braskem, José Carlos Grubisich, e do Grupo Ultra, Pedro Wongtschowski. O assunto será analisado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Filipe Araujo/AE -  Renato Velasco

NEGÓCIO FECHADO Grubisich (à esq.), Gabrielli, Wongtschowski
e Vieira

A Petrobras investiu US$ 1,3 bilhão, a Braskem, US$ 1,1 bilhão, e o Ultra, US$ 1,6 bilhão (leia quadro). Na divisão do bolo, cada comprador ficou com uma fatia apetitosa. Cada um terá 33% da refinaria Ipiranga. A Petrobras e a Braskem serão sócias nos ativos petroquímicos (Ipiranga Química, Ipiranga Petroquímica e participação na Copesul), sendo que a Braskem será majoritária, com 60% das ações. Ao grupo Ultra coube a marca Ipiranga e os 3,4 mil postos de combustível do Sul e do Sudeste. É uma respeitável fatia de 15% do mercado de distribuição de combustíveis. Curiosamente, um dos principais motivos para os grupos nacionais arrematarem a rede Ipiranga foi impedir a entrada da estatal venezuelana PDVSA no Brasil. “Tínhamos várias motivações para fechar o negócio, entre as quais esta”, admitiu Maria das Graças Foster, presidente da BR Distribuidora, da Petrobras.

Já a Braskem aproveitou a deixa para ganhar musculatura em uma só tacada. Suas receitas líquidas crescerão 45%, para quase R$ 17 bilhões, e a geração de caixa dobrará para R$ 3,1 bilhões. “Ganhamos robustez para competir no mercado global”, disse Grubisich a ISTOÉ. “Com esse novo fôlego, poderemos acelerar nossos programas de investimentos no mercado local e ficar de olho em eventuais oportunidades no Exterior.”