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ACHADO
Barco de madeira do século XIX estava completo e intacto

Poucos países dão o devido valor à sua história. A Inglaterra certamente é um deles. Às vésperas da abertura dos Jogos Olímpicos de Londres, que começam na sexta-feira 27, o país anunciou com pompa os resultados de uma longa e cuidadosa exploração arqueológica do terreno onde a Vila Olímpica foi erguida. Das 140 trincheiras cavadas na área entre 2006 e 2009 foram retirados nada menos do que dez mil artefatos. Entre 2009 e 2012, todos foram cuidadosamente catalogados e estudados por renomados centros de excelência espalhados pelo país. As conclusões a que eles chegaram são relevantes. “Podemos afirmar, por exemplo, que a área onde hoje funciona a Vila Olímpica foi ocupada de forma quase ininterrupta pelo homem nos últimos 12 mil anos”, diz Nick Bateman, diretor do Museu de Arqueologia de Londres, um dos responsáveis pelas escavações.

Conhecida como “Lower Lea Valley”, a região era uma espécie de alagado desde o fim da última era glacial. Isso não impediu que o homem se acostumasse com a umidade do local – alias, uma das marcas da Inglaterra – e assim se fixasse lá. Da era neolítica, por exemplo, foi encontrada a cabeça de um machado, feita de pedra, com pelo menos quatro mil anos de idade. Da dominação romana, em 43 d.C., moedas com a cabeça de César. Mas a maioria dos artefatos, como jarros e pedaços de cachimbo, é proveniente da ocupação da região durante a Revolução Industrial, muito mais recente, no século XIX. Nessa época, o alagado foi aterrado com lixo para dar lugar às fábricas, o que acabou por conferir grande valor arqueológico ao local.

Dessa época também é datada uma das mais impressionantes descobertas – um barco de madeira completo, provavelmente usado para navegar no Tâmisa e no rio Lea. “Sem os jogos de 2012 a rica história e pré-história da região do Lea Valley dificilmente viria à luz”, afirma Pippa Bradley, arqueóloga da Universidade de Wessex responsável pelo estudo do material recolhido. Um livro que detalha as preciosas descobertas já foi publicado e uma exposição deve acontecer, depois dos jogos, no Museum of London. Da iniciativa, ficam não só as descobertas, mas também uma aula de como valorizar e preservar a história.

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