Enfim, acabou. Numa votação histórica, o Senado, pela segunda vez, expurgou um de seus membros, cassando Demóstenes Torres, mas não ficou melhor nem pior depois disso. Os esquemas são os mesmos, as pressões que o Legislativo impõe sobre o Executivo são tão fortes quanto antes e velhos coronéis regionais continuam dando as cartas na instituição. Há quem discuta até se o Brasil não deveria copiar países que aboliram o Senado e partiram para o unicameralismo, com um só Parlamento. Certamente, seria mais barato, mas talvez não seja o modelo mais justo, do ponto de vista das desigualdades regionais.

De todo modo, há um saldo positivo na cassação de Demóstenes Torres, que é a desmoralização da hipocrisia na política. Demóstenes não se vestiu como Catão da República porque tivesse vocação para desempenhar o papel. Ele apenas ocupou, com notável maestria, um espaço que lhe rendia dividendos midiáticos e eleitorais. Só que tudo era tão falso, tão postiço e tão incompatível com o comportamento do ex-senador que, mais dia, menos dia, desabaria. Demóstenes caiu como sempre caem todos os falsos moralistas.

Significa que os discursos da ética pública e da moral republicana estão também desmoralizados? Evidente que não. Mas essa discussão tem que se dar de forma objetiva e sem preconceitos. Quando, afinal, o Brasil promoverá uma reforma política? Em que momento será feito o debate sobre o financiamento público de campanhas? O Brasil deve aprofundar a democracia representativa ou buscar mecanismos de diálogo direto com os eleitores, por meio de plebiscitos?

Nos últimos anos, praticamente todos os escândalos políticos tiveram a mesma raiz: o financiamento de campanhas. Foi assim com o esquema PC Farias, com o mensalão e com vários outros casos, que levaram à demissão de ministros e autoridades públicas. O lado B do Demóstenes que exigia punição implacável não era apenas o do político que mantinha contatos secretos com Carlos Cachoeira – era também o do candidato que recorria aos mesmos esquemas. Afinal, quanto custaram suas duas campanhas ao Senado? Alguns milhões, e a maioria não declarada.

Nada indica, porém, que a cassação de Demóstenes promova bons frutos. A primeira consequência poderá ser o voto aberto nas futuras cassações. O que tornará o parlamentar ainda mais suscetível aos humores da opinião pública. E quanto mais vulnerável a esse tipo de pressão, maior a chance de que surjam novos Demóstenes na praça.
 

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