EMBRATANGO O Lienage 1000, jato executivo que tem capacidade para 19 passageiros, deve ser adaptado para acomodar oito pessoas com maior conforto

Até o final deste ano, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, deve cruzar os céus da América do Sul em um avião brasileiro – ao contrário do presidente Lula, que, apesar do discurso de campanha em favor da indústria nacional, optou por um Airbus A- 319. A presidente decidiu aposentar o atual avião presidencial Tango 01, um Boeing 757, comprado em 1992 por US$ 67,5 milhões pelo então presidente Carlos Menem. Considerado por Cristina muito suntuoso e incômodo para as viagens ao interior do país, o velho Tango 01 já deu alguns sustos na família Kirchner. O mais grave deles foi em 19 de outubro de 2004, quando o piloto teve de fazer uma aterrissagem de emergência depois que uma turbina pegou fogo em pleno vôo. O ex-presidente Néstor Kirchner e ministros de seu governo estavam a bordo.

Em fevereiro último, Cristina conversou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Buenos Aires, e adiantou a possibilidade da compra de um avião da Empresa Brasileira de Aeronáutica, a Embraer, pelo governo da Argentina. Na ocasião da visita do presidente brasileiro à Casa Rosada, foi assinado um Protocolo de Intenções entre o Ministério da Defesa da Argentina e a Embraer, que, entre outros assuntos, definiu a cooperação entre os dois países na área aeronáutica. Meio caminho andado para a fábrica brasileira que aposta suas fichas na venda do jatinho executivo Lienage 1000. “Um avião presidencial abre as portas para a entrada da empresa no mercado argentino”, disse o vice- presidente comercial da Embraer, Alexandre Glock, em entrevista ao jornal Clarín. Glock torce para que a venda tenha êxito, pois a Embraer, líder mundial na fabricação de jatos comerciais, está interessada, sobretudo, em vender aviões para os vizinhos argentinos.

Para substituir o Tango 01, Cristina escolheu uma aeronave menor, com autonomia de 7.760 quilômetros, suficiente para chegar, sem escalas, à Venezuela. Para os vôos longos, para Europa ou América do Norte, por exemplo, a presidente vai continuar a alugar um Jumbo das Aerolíneas Argentinas (US$ 200 mil dólares a viagem). Com capacidade para acomodar até 19 passageiros, o Lienage 1000 tem cinco salas e dois banheiros. Cristina, que colocou como pré-requisitos para o novo avião presidencial área privativa e lugar para descansar, poderá trabalhar, fazer reuniões e relaxar em uma suíte com cama de casal. Acesso à internet e a tecnologia Wi-Fi são opcionais desse jato que custa US$ 43 milhões. Preço quase US$ 4 milhões mais barato do que o do francês Airbus A-319 que o governo brasileiro comprou. O Santos Dumont, como oficialmente é chamado o Aerolula, foi comprado em 2005 e custou aos cofres públicos US$ 56,7 milhões.

O governo argentino já tem parte do dinheiro (US$ 17 milhões) para pagar o avião. Para isso, Cristina usou a Lei de Emergência Econômica. Apelidada ironicamente de “superpoderes”, a lei – criada em meio à crise da Argentina em 2002 – permite ao governo mudar o orçamento nacional sem que seja necessária a aprovação do Parlamento. Desse modo, o Diário Oficial argentino publicou em dez de março a decisão administrativa, assinada pelo chefe de Gabinete, Alberto Fernández e pelo ministro da Economia, Martín Lousteau, que liberou 56,266 milhões de pesos para atender a “necessidades impostergáveis”, especificando que parte do dinheiro (54 milhões, o equivalente a US$ 17 milhões) será destinada à Secretaria-Geral da Presidência, encarregada de comprar um “equipamento de transporte, tração e elevação.”