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DÚVIDA
A sul-africana Caster Semenya, ouro nos 800 metros no Mundial
de Atletismo de 2009, motivou a volta dos exames 

Além de boa capacidade física e técnica e muita garra para competir, as atletas que disputarem os Jogos Olímpicos de Londres, que começam no dia 27, poderão ter de provar sua feminilidade para fazer valer os resultados. As polêmicas avaliações de gênero foram novamente regulamentadas pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), depois de terem sido suspensas nas três últimas competições. Se existirem dúvidas, a atleta terá de se submeter a exames. No caso de haver características “masculinas”, a participante pode até perder a medalha. A controvérsia aumentou depois da publicação de um artigo no “American Journal of Bioethics”, assinado por vários especialistas, entre as quais a respeitada Katrina Karkazis, da Universidade de Stanford, da Califórnia, questionando um por um todos os critérios do COI. Até a suposta vantagem de elevada taxa de hormônio masculino vem sendo posta em xeque.

A volta dos testes de sexualidade foi motivada pelo caso da corredora sul-africana Caster Semenya, ouro nos 800 metros no Mundial de Atletismo de Berlim, em 2009. Sua sexualidade foi questionada e testes de DNA revelaram uma variação genética: não tinha útero nem ovário e teria testículos ocultos. Sua taxa de testosterona era o triplo do normal para uma mulher. Para Katrina, a simples exclusão da atleta, que não chega a ser considerada hermafrodita, é um escândalo, um caso de discriminação. Segundo ela, apesar das evidências de que o principal hormônio masculino aumenta a massa muscular, as pesquisas que o relacionam com um melhor desempenho atlético foram feitas basicamente em homens. Haveria poucos dados para mulheres. Até a taxa considerada normal foi criticada pela especialista, que cita pesquisas que apontam grande variação no nível hormonal de ambos os sexos. É levantada ainda a hipótese de uma competidora que tenha passado uma retirada do útero seja prejudicada.

Para o professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Wallace David Monteiro, especializado em fisiologia do esporte, a maior quantidade de hormônio masculino dá uma vantagem desleal às atletas. Segundo ele, não só a massa muscular aumenta, mas a potência e a velocidade também, algo decisivo em esportes como atletismo e lutas. “A maior testosterona melhora o desempenho a curto prazo tanto de mulheres quanto de homens. E quando injetado artificialmente pode ser perigoso no futuro”, adverte Monteiro. Daniel Arkader Kopiler, diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, defende que as atletas que não se enquadram nas regras do COI poderiam se submeter a tratamentos prévios para competir. “Pode ser que um dia se aceite mulheres com características masculinas. Por que não aceitar as diferenças?”, pergunta o especialista. No momento, não é a regra do jogo.

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