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NO PODER
Peña Nieto leva o PRI de volta ao governo e é acusado
de fazer acordos com os cartéis das drogas

Como representante de uma nova face do Partido Institucional Revolucionário (PRI), que governou o país por 71 anos, o presidente eleito do México, Enrique Peña Nieto, vai iniciar seu governo em dezembro sob a influência de duas heranças. A primeira é a sombra do autoritarismo e da corrupção que marcaram a história do PRI. Os temores de que os priístas conti­nuam os mesmos, apesar da aparência remodelada, ressurgiram com denúncias de manipulação das pesquisas eleitorais e se reforçaram pelas suspeitas de compra de votos, o que forçou uma recontagem. A segunda sombra é a guerra ao narcotráfico declarada – e malconduzida – pelo atual presidente, Felipe Calderón, do conservador Partido de Ação Nacional. Nos últimos seis anos, estima-se que 60 mil pessoas foram assassinadas e dez mil desapareceram em decorrência de ações coordenadas pelo crime organizado. Peña Nieto assumirá com a missão de restaurar a segurança dos mexicanos. Mas não se sabe a que preço. Durante a campanha, ele disse apenas que a prioridade de seu governo será “diminuir as altas taxas de homicídios, sequestros e extorsões”. Mas, ao mesmo tempo, anunciou que vai retirar o Exército desse combate e, assim, espalhou a suspeita de que estaria disposto a fazer um acordo com os cartéis da droga em troca de um pouco mais de paz pelas ruas.

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VIOLÊNCIA SEM FIM
Quase 60 mil pessoas foram assassinadas na guerra ao tráfico.
Número de desaparecidos chega a dez mil 

Peña Nieto, assessorado pelo general colombiano Oscar Naranjo, anunciou que vai substituir, aos poucos, os militares por uma força policial nacional de 40 mil homens para atuar nas áreas rurais. Em artigo publicado pelo jornal americano “The New York Times”, o presidente eleito disse que a nova força será semelhante à de países como Colômbia, Itália e França. “Também expandirei a Polícia Federal com a contratação de pelo menos 35 mil agentes e intensificarei a coleta e a análise das informações”, escreveu. Nieto propõe aumentar os gastos do governo com a segurança nacional (segundo um assessor, para no mínimo o dobro) e fazer uma reforma na legislação penal. Para Marien Rivera, especialista em segurança e justiça do Centro de Investigación para el Desarrollo, esse é o principal problema do país. “A mensagem que temos da Justiça mexicana hoje é que, não importa o crime que você cometa, você não será punido”, disse à ISTOÉ. “E a impunidade não será resolvida com mais policiais, é preciso levar adiante a reforma da Justiça penal iniciada em 2008.”

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Apesar das desconfianças com o futuro, ninguém menospreza os erros da política de combate ao tráfico de Felipe Calderón. “É um fracasso”, diz Agustín Besave Benítez, cientista político e diretor de pós-gradução da Universidade Iberoamericana. Quando assumiu o compromisso de acabar com os cartéis em 2006, Calderón teve apoio popular e decidiu focar na captura dos grandes líderes, mas a violência só aumentou. “Quando se elimina um líder, há uma batalha interna na organização criminosa para ver quem vai ser o novo chefe e, ao mesmo tempo, outras quadrilhas entram na disputa por determinada região quando veem o inimigo enfraquecido”, afirma Pamela Starr, professora da Universidade do Sul da Califórnia e diretora da US-Mexico Network. Além disso, as gangues diversificaram suas atividades, aumentando os casos de sequestros e extorsões, por exemplo. Segundo Starr, nesse período, os Estados Unidos também não foram capazes de reduzir a demanda por droga, o que comprometeu a estratégia bilateral. Em compensação, a professora acredita que no atual governo, pela primeira vez, o México levou a sério a tarefa de combater o crime organizado. “O país ignorava o problema e os governos passados até trabalharam em acordo com os bandidos.” A questão é que esses “governos passados” eram todos do velho PRI.

 

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Fotos: Fernando Ramírez/Ag. EL UNIVERSAL; Olivier Douliery/ABACAUSA.com