No final da tarde da segunda-feira 8, logo depois de vencer as prévias do PT para a escolha do candidato ao governo paulista, o senador Aloizio Mercadante disparou um telefonema para o Palácio do Planalto. Em tom de euforia, agradeceu ao presidente Lula por sua vitória sobre a ex-prefeita Marta Suplicy. O agradecimento tinha razão de ser. A euforia, nem tanto. Lula de fato se empenhou pelo senador. Nas semanas que antecederam a disputa, o presidente chegou a enviar emissários para convencer os 55 prefeitos do PT do Estado a fazer campanha favorável ao senador. O empenho deu certo, mas deixou uma ferida aberta na difícil unidade petista. E esse é o primeiro desafio do candidato Mercadante: colar os cacos do partido em torno de seu nome. Não será tarefa das mais fáceis. A ex-prefeita, minutos antes de Mercadante falar com Lula, fazia questão de afirmar em alto e bom tom que não aceitará disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados, como pretende a cúpula do PT. E entre seus aliados o ressentimento pela intromissão presidencial na disputa paulista é visível. “No PT, as pessoas gostam de apagar fogo com gasolina”, reclamou o porta-voz informal de Marta, Valdemir Garreta, quando questionado sobre o comportamento da cúpula partidária durante as prévias.

Nos dias que seguiram às prévias, a ex-prefeita cruzou os braços. Recolheu seus aliados, sumiu do noticiário e deixou a cidade. Se mantiver a postura de não participar da disputa eleitoral, deixará enfraquecido o palanque petista. Uma perda considerável. Sem Marta candidata, o PT não tem um nome de peso para puxar votos à legenda, o que pode até dificultar coligações políticas. Na outra trincheira, o senador começa a traçar a estratégia para enfrentar José Serra, líder absoluto nas pesquisas. Para isso, tenta cada vez mais colar na popularidade de Lula e adotar um discurso agressivo em relação aos 12 anos de gestão tucana em São Paulo. “O governo do PSDB apresenta fadiga material”, discursa o senador. “De 1996 a 2003 a indústria paulista cresceu 18%. Os outros Estados cresceram 67%.” Na Assembléia paulista, Mercadante quer trazer à luz as 70 CPIs enterradas pelo PSDB e centrar fogo naquilo que o PT chama de “escândalos” dos governos tucanos.


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