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PROPOSTA
A ideia é usar o dinheiro arrecadado com a maconha
no tratamento de dependentes químicos

A iniciativa é inédita no mundo. O governo do Uruguai pretende plantar, colher, enrolar em seda e vender a preço tabelado cigarros de maconha. A comercialização será feita em farmácias de todo o país para cidadãos previamente registrados ao limite máximo de 40 unidades mensais por usuário. Essa medida polêmica é a mais inusitada do pacote de segurança apresentado ao Legislativo pelo presidente José Mujica para impedir o avanço da criminalidade. “Não estamos propondo uma legalização que permita que qualquer um possa ir ao armazém, comprar quantidades de maconha e fazer o que quiser. O Estado vai ter controle da qualidade, da quantidade, do preço, e as pessoas estarão registradas”, afirmou Mujica.

A legislação do país vizinho sobre o uso da erva já é uma das mais liberais da América Latina. Lá, portá-la para uso pessoal não é proibido, nem está estabelecida por lei uma quantidade que diferencie o consumo do tráfico. A previsão é de que o dinheiro arrecadado com a maconha estatal seja usado no tratamento de dependentes químicos. Os cigarros serão fabricados com tecnologia que permita o rastreamento para evitar a revenda por parte dos usuários. Quem exceder o limite de compra será obrigado a se submeter a um acompanhamento médico. “É como apagar um incêndio com nafta”, criticou o psicológo uruguaio Pablo Rossi, que trabalha há 25 anos com reabilitação de viciados no país e prevê um aumento substancial no consumo de entorpecentes. “A maconha é a porta de entrada para outras drogas.”

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"Não estamos propondo uma legalização que
permita a qualquer um fazer o que quiser"

José Mujica, presidente do Uruguai

O pacote de segurança busca frear também o consumo da chamada pasta base de cocaína. Ele prevê a internação compulsória de viciados e a proibição de notícias e vídeos que possam estimular a violência entre os jovens. Pesquisa da Junta Nacional de Drogas do Uruguai indica um percentual de dependência em 53% dos usuários desse subproduto da cocaína, índice três vezes superior em relação aos que consomem maconha. Um dos organizadores da Marcha da Maconha no Brasil, o sociólogo Renato Cinco vê como positiva a intenção do governo do Uruguai de abandonar a política repressiva em relação às drogas. Mas faz ressalvas: “O controle estatal da venda de maconha pode diminuir, mas não vai acabar com o tráfico”, analisa Cinco. Resta saber se as medidas terão algum efeito positivo.

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