O contraste não poderia ter sido mais gritante: dois conceitos antagônicos escancarados à apreciação pública em Nova York. Recentemente, nos salões de convenções do Jarvitt’s Center, em Manhattan, estavam reunidos e exibindo seus produtos os maiores nomes da indústria do fast food. No mesmo período, do outro lado da via West Side Highway, montou banca a Sodexho, grupo multinacional de origem francesa especializado em oferecer nutrição balanceada e saudável. Era como se o francês José Bové – o líder antiglobalização
de paladares – tivesse armado palanque em frente a uma exposição
do McDonald’s. Ou seja: um duelo de idéias em que os bandidos são
os incentivadores da obesidade internacional e os mocinhos são os
xerifes da dieta inteligente. O bom garfo – no caso, aquele que conduz
um regime de altos benefícios – ancorou no píer 60, que é parte
do complexo de esportes Chelsea Pier. Integrantes da aliança da
Sodexho – empresa provedora de alimentos, gerenciamento e serviços para hospitais, escolas, instituições públicas e empresas privadas,
em 70 países, incluindo o Brasil – foram mostrar ali suas inovações
no campo da alimentação e formas de servi-las.

Entenda-se: nos estandes não havia comida alguma. Ou melhor:
não na forma materializada. Somente durante o almoço podiam-se
provar as matérias-primas do receituário dietista. O que se via mesmo nos estandes era um cardápio de idéias sobre nutrição, demonstrado
em telas de vídeo. Talvez por isso, apenas um único convencional apresentasse peso muito acima de seu ideal. O prato de resistência
do evento era a coleção de novidades que podem ajudar a colocar
a humanidade no caminho da alimentação balanceada e, de quebra,
a fazer as pazes com a balança. A aliança da Sodexho acumulou no último ano cerca de 200 inovações nesta área, inventadas nos vários países onde tem filiais, das quais escolheu 21 para a mostra deste
ano em Nova York. Pegue-se, por exemplo, a iniciativa apresentada
pelos ingleses da Sodelicius. Suas pesquisas mostraram que entre
40% e 70% dos pacientes internados em hospitais da Grã-Bretanha sofrem de má nutrição, o que dificulta a recuperação e complica
seu quadro clínico. A Sodelicius buscou então um menu que dá sustento ao paciente e às terapias. Começou pela dedicação ao paladar dos pacientes, que já não têm muito apetite, e ainda são obrigados a enfrentar a insossa comida de hospital. Para isso, caprichou em pratos que lembram as receitas caseiras. Foram elaboradas também sobremesas que levam superdoses de vitaminas – particularmente a C. O resultado imediato foi a diminuição em 50% das sobras de alimentos e o corte dos dias de permanência dos doentes nos centros de saúde.

Diversão – No campo hospitalar, vale ainda lembrar a experiência brasileira de associados locais da Sodexho, que inovaram no campo da alimentação para setores de oncologia pediátrica em hospitais. “Para despertar o apetite das crianças e reforçar sua nutrição, foram criados pratos divertidos, como, por exemplo, saladas que formam o rosto de um palhacinho, entradas que lembram um bichinho, e outras formas que fazem do alimento uma brincadeira”, conta a diretora de marketing da Sodexho no Brasil, France de Sambucy. Este cardápio foi implantado com sucesso em centros de saúde do País e hoje é copiado em vários países.

O Brasil, diga-se, foi um dos países que contribuíram com sistemas inovadores escolhidos para esta mostra. Um é da área da educação. A “Sodexho Feliz” há dois anos vem atendendo um grupo de escolas brasileiras – como as paulistanas Santo Américo e Saint Paul – com elaboração de dietas, fornecimento de alimentos e serviços, além de acompanhamento individualizado da nutrição de crianças nas idades de quatro a nove anos. O programa tem capacidade para servir até 300 alunos dentro de um mesmo horário. Para isso, conta com um exército de nutricionistas estagiários que fazem a orientação nas refeições dos pequenos estudantes. Foi criado um sistema que procura desviar a atenção quase que exclusiva das crianças ao hambúrguer e às batatinhas fritas, tornando interessantes também os brócolis, o espinafre e o feijão. “Nós não abolimos totalmente o hambúrguer e a pizza da mesa das crianças. É claro que temos também os dias em que estas comidas são servidas. Mas tentamos despertar o interesse por outros alimentos mais saudáveis”, diz Plínio de Oliveira, diretor-geral da Sodexho no Brasil.

Nesta tarefa hercúlea são aplicados macetes dos mais variados. Uma das artimanhas é a premiação dos relutantes gourmets. Para os que cumprem bem suas obrigações semanais com os brócolis é dado um certificado de destaque, o prêmio Bom Garfo. A molecada também acompanha o preparo dos pratos que vão enfrentar, atividade sempre feita com o auxílio de bonecos na forma dos gêneros que estão indo para a panela. “Os bonecos são nossos companheiros de trabalho. Pela nutrição, vale tudo”, diz Luciana Santarelli, uma das responsáveis pela implantação do programa, junto com Sonia Lauterjung. Os pais vão poder também acompanhar os menus de seus filhos na internet, onde a interatividade dá chances para sugestões sobre o que cada aluno comerá. “Há mães, por exemplo, que nos escrevem perguntando qual é nossa receita no preparo de um certo alimento, já que o filho come na escola, mas não come o mesmo prato em casa”, diz Oliveira. A outra vantagem apontada pelo diretor da Sodexho é a segurança que o sistema promove. “Muitos pais se preocupam em dar dinheiro para seus filhos comprarem lanche. Nosso esquema possibilita o pagamento para a escola – embutido na mensalidade – ou diretamente para a Sodexho Feliz. Isso evita o roubo ou perda do dinheiro”, diz o diretor. “Temos de combater o avanço da obesidade em certas faixas sociais do Brasil”, diz.