O clássico topete do governador
de Minas Gerais, Itamar Franco, reluzia na manhã de segunda-feira 4, quando o holandês Ben van Schaik, presidente no Brasil
da DaimlerChrysler – símbolo de qualidade e luxo no mundo automobilístico –, anunciou que
irá produzir mais um novo veículo
em Juiz de Fora, a terra de Itamar, onde mineiros carregam no “s” e
no “r” pelo fato de a cidade ser mais próxima do Rio de Janeiro (184 quilômetros) do que de Belo Horizonte (255), a capital do Estado. O governador eleito, Aécio Neves, também ouviu a boa notícia: a cidade será a primeira unidade fora da Europa
a receber um dos modelos da marca Smart, aquele carrinho que coloca todo o seu charme em apenas dois metros e meio de comprimento e,
não por acaso, foi batizado de “elegante” em inglês. É plano para 2005, mas envolve um dinheirão que anima qualquer governador, o que entra
e o que sai. Os valores de investimento anunciados pela empresa “são acima de US$ 100 milhões” – bem acima, segundo os especialistas
do setor, que calculam algo em torno de US$ 550 milhões, como
teria dito Schaik, por telefone, a Luiz Inácio Lula da Silva.

O novo modelo será diferente da versão que já é produzida na França
e na Holanda, com dois lugares. “Será um modelo de quatro portas
para quatro pessoas”, disse o presidente da empresa no Brasil. Certamente não será um produto que poderá se chamar de popular.
Na Europa custa no mínimo US$ 23 mil. “Com o novo veículo estaremos criando novas oportunidades nos mercados interno e externo e reforçando a utilização de nossa capacidade em Juiz de Fora”,
disse Schaik. “Trata-se de uma clara demonstração de confiança
no Brasil, onde atuamos há mais de 45 anos.”

Confiança no Brasil e melhor aproveitamento da fábrica de 150 mil metros quadrados de área construída, onde hoje são produzidos o Classe A, que circula no Brasil, e o Classe C,
sedan de luxo exportado para os
Estados Unidos. O Smart, que começará a ser produzido no início de 2005,
irá preencher a enorme ociosidade
da fábrica em Minas, inaugurada em
abril de 1999 com uma capacidade instalada para a produção de 70 mil veículos – neste ano, a unidade produzirá apenas 8,5 mil veículos do modelo Classe A e outras seis
mil unidades do Classe C. “Só a ocupação total da capacidade instalada em Juiz de Fora nos livrará da incerteza quanto ao futuro da planta”, disse Schaik. O índice de nacionalização será de 70%.

Se Ben van Schaik estava feliz em encontrar essa saída para a fábrica de Juiz de Fora, imagine os 1.200 funcionários que, depois do anúncio oficial, ouviram a novidade do próprio presidente. O Smart, pequeno e cheio de requintes (controle automático de estabilidade e tração, sistema de freios ABS, direção hidráulica, interior e exterior em duas cores …) acabou com o fantasma do desemprego. Agora é esperar o projeto sair do papel.


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