Nenhuma economia do mundo – especialmente as mais desenvolvidas que, por decorrência, poluem mais – quer pagar pedágio para a preservação do verde. É um retrato nítido que aparece sem retoques quando os países emergentes cobram ações mais efetivas do bloco dos chamados ricos. Esse antagonismo entre os dois grupos de nações promete estar novamente em evidência na Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20). Não deve sair dali, lamentavelmente, nenhum acordo concreto para financiar a economia verde. E não por ausência de propostas, mas por falta de disposição dos interlocutores. É o que vêm deixando claro alguns emissários nas reuniões preliminares do grande encontro. A ideia de um fundo de US$ 30 bilhões para financiar ações sustentáveis já foi lançada pelo “G-77+China”, que reúne 130 países pobres e emergentes como o Brasil. Porém as chances de uma adesão dos mais desenvolvidos – hoje às voltas com crises financeiras crônicas em seus mercados – são remotas. A presidenta Dilma se recusa a aceitar a ideia de que a sazonal temporada de escassez de crédito internacional seja capaz de barrar planos estruturais como o desse fundo. Na abertura dos trabalhos, na semana passada, disse que um modelo de desenvolvimento sustentável não pode ficar à mercê de oscilações da economia. “Meio ambiente não é adereço”, reclamou. E os números reforçam sua tese. Um relatório da ONU aponta que a economia verde tem ajudado a reduzir sensivelmente o grau de pobreza global. O momento que o planeta enfrenta atualmente está a exigir um pente-fino no arsenal de inúmeras propostas que vêm sendo exaustivamente discutidas nos últimos anos e, na sua maioria, esquecidas em relatórios oficiais. O levantamento dos organizadores da Conferência mostrou que pelo menos 20 grandes temas para o futuro da humanidade – do clima à energia, dos resíduos sólidos aos oceanos – seguem sem acordo para práticas sustentáveis. E a responsabilidade maior pelo impasse é da bancada das nações desenvolvidas. O embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, chefe dos negociadores brasileiros, foi taxativo na cobrança de uma resposta: “Os ricos têm que dar o dinheiro prometido”, afirmou em entrevista ao jornal “Valor Econômico”. Sem esses recursos, que estão sendo discutidos desde a Rio-92, a preservação ambiental seguirá como uma quimera.  


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