chamada.jpg
ALVO DAS MANIFESTAÇÕES
Nieto em comício: ele era o favorito nas eleições,
mas não contava com a reação dos universitários

A onda de protestos de estudantes, que nos últimos meses varreu parte da Europa, Ásia e África, chegou agora com força ao México – e pode até mudar o rumo das eleições presidenciais. O pleito, que será definido no dia 1º de julho, seguia para um caminho previsível até que Enrique Peña Nieto, candidato do Partido Revolucionário Institucional (PRI) e favorito à vitória, desandasse a falar bobagem. Dono de um sorriso branquíssimo emoldurado por covinhas e casado com uma popular atriz de novelas, Nieto complicou-se em uma palestra na Universidad Iberoamericana. O clima era cordial até que um estudante perguntou o que ele pensava sobre os trágicos acontecimentos de San Salvador Atenco, de 2006. Na época, Nieto era o governador do Estado onde, após um protesto de camponeses, 45 mulheres foram presas e violentadas. O candidato do PRI não só defendeu a ação violenta de sua polícia como se recusou a expressar arrependimento. “Aquilo foi o estopim que enfureceu os estudantes”, disse à ISTOÉ Agustín Basave Benítez, diretor de pós-graduação da Iberoamericana. Nieto deixou o local aos gritos de “assassino” e “covarde”.

Poderia ter sido apenas uma escolha mal calculada de palavras até que o jornal britânico “The Guardian” desse a munição que os opositores do candidato precisavam. Documentos do WikiLeaks divulgados pelo periódico mostram que Nieto pagou para receber uma cobertura positiva das emissoras de tevê Televisa e Azteca. Juntas, as duas controlam mais de 90% da tevê aberta do país. Não demorou para que os protestos se espalhassem por praças e ruas, reunindo milhares de jovens conectados às redes sociais. “O povo mexicano despertou e não quer mais do mesmo”, afirma Jesús Fausto Balbuena, 21 anos, estudante de ciências da comunicação na Universidade Vizcaya de las Americas. A primavera mexicana chegou também aos mais novos. Embora sem a idade mínima para votar, Enrique Maldonado, estudante secundarista de 17 anos, tem um discurso politizado. “Nós, jovens, seguiremos lutando até que haja uma verdadeira democracia em nosso país.”

img.jpg