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Digamos que a linha da vida do cidadão retratado na página ao lado tenha sido desenhada no ritmo do funk, com agudos e graves sentidos, picos e vales bem marcados, mas sempre cheia de muito balanço. Antônio Viana Gomes fugiu de casa em Mirante do Paranapanema (interior de SP) bem moleque. Aos 11 anos se mandou sozinho para o Rio de Janeiro. Engraxou sapatos, vendeu amendoim e fez rolos de diferentes gêneros até se alistar no serviço militar. Foi de uma das primeiríssimas turmas de paraquedistas do Exército brasileiro. Servindo ao seu lado, aliás, um outro praça chamava a atenção pela lábia e pela capacidade de vender ideias e coisas a quem quer que fosse. Soldado Abravanel era o nome do sujeito que, muitos saltos depois, viria a se transformar na entidade Silvio Santos. Mas isso é assunto para outra coluna.

O soldado Antônio foi parar no Canal de Suez e lá deu de cara com soldados americanos que não paravam de falar (e de ouvir) de um tal rock’ n’ roll.

Já de volta ao Brasil, iniciou a carreira como cantor de rock, com o pseudônimo de Tony Checker. Graças a essas apresentações, foi convidado a integrar o grupo de música e dança Brasiliana. Com o Brasiliana viajou o mundo e, durante uma passagem pelos EUA, debandou do grupo e viveu ilegamente no país por três anos. Entre afazeres como “assessor e supervisor de moças de vida fácil”, período no qual atendia pelo sugestivo apelido de “Confort”, e uma rápida passagem como “assistente de logística no comércio de substâncias alteradoras de estado” no então bastante inóspito bairro do Harlem em Nova York, nosso Tony conheceu (e, segundo consta, ajudou a tirar da cadeia) ninguém menos do que Tim Maia, viu e viveu de perto os ideais dos Panteras Negras e o swing de James Brown. Mais uma vez de volta ao Brasil, trabalhou como crooner da boate New Holiday, no Rio, onde foi descoberto pelo compositor Tibério Gaspar. Em 1970, com o famoso “Trio Ternura” nos backing vocals, Tony foi a revelação e o grande vencedor da etapa nacional do 5º Festival Internacional da Canção, com a magnífica “BR-3”, derrotando, com sua mistura de dança black americana com passos de terreiro, suas roupas absolutamente malucas para a época e um cabelo no qual seria possível guardar pelo menos três aparelhos de telefone celular, alguns dos maiores nomes da música brasileira de todos os tempos, como Gonzaguinha, Ivan Lins, Taiguara e Beth Carvalho, entre outros. É exatamente desse momento a foto que ilustra a coluna. Seu sucesso nos palcos lhe rendeu, além dos 30 mil cruzeiros do prêmio (algo em torno de 6 mil dólares ou 12 mil reais de hoje), um convite para atuar na televisão, onde estreou em 1972, na novela “Jerônimo”, na TV Tupi. Seu trabalho na televisão já soma quase 40 anos de contrato com a Rede Globo, mais de 30 novelas e minisséries e a participação em mais de 20 filmes no cinema. Seu mais recente papel foi como o Damião, na novela “Cordel Encantado”. Antônio Viana Gomes, mais conhecido como Toni Tornado, completou 81 anos há cerca de três semanas e, para a alegria de quem gosta de música e de arte da melhor qualidade, tem voltado a apresentar sua energia nos palcos com mais frequência, ao lado de colegas da velha guarda e de moleques talentosos, como seu filho Lincoln Tornado, para quem não sabe, o Jair da novela “Amor Eterno Amor”.

Há poucos dias, este senhor, que muita gente duvida estar vivendo sua nona década, foi o convidado especial de um evento promovido por uma das maiores empresas do Brasil. O tema do encontro? Inovação.

A coluna de Paulo Lima, fundador da editora Trip, é publicada quinzenalmente