No filme Viagem fantástica, de 1966, considerado um clássico da ficção científica, os roteiristas imaginaram um submarino tripulado por médicos e cientistas, que, depois de ser reduzido a um tamanho microscópico, seria injetado na corrente sanguínea de um diplomata e chegaria a órgãos doentes para que os especialistas pudessem consertar o que estava errado. Quatro décadas depois, a ficção se aproxima da realidade com um passo importante para o entendimento do funcionamento do organismo humano dado por uma equipe liderada pelos cientistas brasileiros Wadih Arap e Renata Pasqualini, pesquisadores do MD Anderson Cancer Center, de Houston, nos Estados Unidos.

Os cientistas anunciaram a descoberta de uma espécie de “código postal” no revestimento dos vasos sanguíneos do corpo humano. Esse “endereço” permite que as células viajem pela corrente sanguínea sem errar o caminho, como se houvesse estradas bem sinalizadas para guiá-las até o seu destino final. Quando elas encontram o “CEP” específico para cada uma, é como se os “portões” dos vasos se abrissem para que as células entrassem no tecido correto.

A descoberta traz muitas esperanças. Uma delas é aumentar a absorção e a eficácia de medicamentos contra o câncer. Afinal, ao disporem dos “endereços” corretos de cada tipo de tecido, os cientistas podem criar drogas que, a exemplo das células, cheguem diretamente ao alvo desejado. “Os códigos poderão ajudar no desenvolvimento de remédios que atinjam os tumores por dentro, poupando as partes saudáveis do corpo”, disse Arap a ISTOÉ. Além disso, o estudo poderá ter alcance muito mais abrangente. “Provamos que a distribuição das células e proteínas não se dá por acaso e que talvez seja possível identificar
esses endereços. Estamos dando o primeiro passo para fazer um mapeamento molecular do organismo”, afirmou Renata a ISTOÉ. O
feito dos pesquisadores está relatado em um artigo publicado na revista científica Nature Medicine, uma das mais conceituadas do mundo.
Um dos “endereços” identificados pelos cientistas foi o da próstata. Agora, a pesquisa prosseguirá para confirmar os “CEPs” da pele,
gordura e músculos.