Quem nunca suspirou ao ver a atriz Giovanna Antonelli requebrando como Jade, personagem da novela O clone? A atriz não é uma autêntica dançarina do ventre, mas vem despertando no público a vontade de aprender esse sensual gênero de dança. O maior sinal de que ela conquistou o País é a proliferação das aulas nas academias. Na Biorritmo, de São Paulo, por exemplo, o número de alunas passou de 15 para 50 depois que o folhetim global entrou no ar, no segundo semestre do ano passado. A Estação do Corpo, do Rio de Janeiro, incluiu as aulas quase na mesma época. É o efeito Jade. Mesmo que seja passageiro, o interesse tem valor, já que faz um favor ao corpo, principalmente o dos sedentários e daqueles que não gostam de malhar. Os especialistas dizem que adquirir as formas da atriz é pouco provável, mas comparam o gingado a uma atividade esportiva completa, capaz de promover melhoras por dentro e por fora.

Uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo, realizada em 2001 com dançarinas iniciantes e experientes, comprovou que os benefícios desse bailado vão além de coxas e bumbum durinhos. “Há perda de peso, aumento da flexibilidade, melhora da circulação nas pernas e redução de queixas de cólica e de problemas relacionados ao ciclo menstrual”, assegura Raul Oliveira, especialista em medicina da atividade física e responsável pelo trabalho. Numa hora, são queimadas 300 calorias, em média. Os passos e gestos fazem o corpo inteiro se mexer. E, como qualquer exercício praticado regularmente, os movimentos facilitam o fluxo do sangue pelo organismo. Além disso, eles fazem uma espécie de massagem nos órgãos do ventre. Apesar de exigir que a região se agite bem, o abdome não se torna musculoso. Com a prática correta, a barriga não fica flácida. O que se ganha é flexibilidade.

Outro aspecto positivo da dança é o fortalecimento da musculatura pélvica. Há mais benefícios. “Se ela é feita com cuidado, ajuda na melhora da vida sexual, incontinência urinária e até no parto. Mal praticada, pode causar o efeito inverso”, alerta a professora Merit Aton, de São Paulo. Por isso, é preciso atenção na execução dos movimentos e na posição do corpo. As aulas devem ser dadas por quem entende realmente do riscado. Merit, por exemplo, pratica a modalidade desde pequena e decidiu em 1998 fazer fisioterapia. Em função disso, tem conhecimento para corrigir a postura das alunas.

As especialistas nesse bailado destacam que a dança dá à mulher a chance de conhecer melhor o corpo. A psicoterapeuta corporal Malu Damasceno, há dez anos dona de uma escola (Corê) em São Paulo, brinca que o gênero deveria ser obrigatório para toda mulher. “Ela é muito feminina e desperta uma consciência corporal mais intensa. As alunas se sentem sedutoras”, diz. O curso de Malu está aberto a mulheres de todas as idades, inclusive as que se sentem envergonhadas de praticar os passos em academias. A dança é também oferecida como alternativa para melhorar o ânimo. A secretária paulista Luci Hadarah, 36 anos, conta que começou a fazer aulas para levantar o astral após o fim de um noivado. “Tinha gente que achava que eu estava louca. Isso não combinava comigo. Não sabia me colocar em público. Foi um desafio e virou um modo lúdico de me equilibrar”, lembra. Hoje, Luci faz apresentações em eventos.

Se alguém pensa que o gênero se popularizou por causa da novela, está enganado. A professora e pesquisadora da dança Lulu Sabongi, de São Paulo, informa que no último Festival Internacional de Dança Oriental (que engloba todas as variações do que chamamos dança do ventre), que aconteceu em 2001 no Egito, o Brasil era o País com o maior número de representantes. Lulu observa que na festa de encerramento só se apresentaram egípcias e brasileiras. Ela não acredita que o bailado seja esquecido com o tempo. “Em 1990, quando comecei a dar aulas, meu marido disse que a moda da dança do ventre passaria. Agora, o Brasil exporta dançarinas”, conta Lulu.