A Globo Cabo, maior empresa de televisão por assinatura do País, controlada pelas Organizações Globo, deu na semana passada um passo decisivo para tentar reduzir sua dívida de R$ 1,6 bilhão, dos quais R$ 524 milhões vencem até o final do ano. A operação de salvamento da companhia dos Marinho passa por uma injeção de capital de R$ 1 bilhão. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que possui 4,8% das ações da Globo Cabo, se comprometeu a injetar mais R$ 284 milhões na empresa. O compromisso provocou indignadas reações dos concorrentes. “Por que o BNDES tem que socorrer uma empresa insolvente?”, indagou o vice-presidente da Bandeirantes, Antonio Teles.

A indignação de Teles tem antecedente: a própria Bandeirantes e o SBT já tentaram conseguir dinheiro no BNDES e receberam um sonoro não sob a justificativa de que o banco não possui linha de crédito nem política de financiamento específica para empresas de comunicação.

Surpreendeu ao mercado o fato de o BNDES entrar com 28,4% dos recursos de aumento de capital da Globo Cabo (quando detém apenas 4,8% de suas ações), utilizando recursos públicos para socorrer uma empresa de comunicação que vem apresentando prejuízos há sete anos. No ano passado, por exemplo, as perdas atingiram R$ 700 milhões e a base de clientes passou de 1,47 milhão para 1,28 milhão. O único lucro contabilizado pela empresa foi num trimestre, de R$ 1,4 milhão.

Além do BNDES, também são sócios no negócio da Globo Cabo a Bradespar, braço de investimento do Bradesco, a RBS, grupo gaúcho de mídia, e a Microsoft, de Bill Gates, o homem mais rico do mundo. Aliás, a Microsoft, oficialmente, ainda não se decidiu sobre um possível aporte na Globo Cabo. Mas quem conhece Gates garante que ele não irá colocar mais dinheiro em uma companhia que, além das dificuldades financeiras, tem poucas chances de crescer no mercado.

Na Marginal Pinheiros, sede da Editora Abril, principal concorrente da Globo no mercado de TV por assinatura, a reação foi de ironia. “Se for assim, também quero”, disse Roberto Civita, presidente da empresa.

Mais duro nas declarações, Bispo Rodrigues, que defende os interesses da Record na Câmara dos Deputados, questionou o empréstimo: “Por que utilizar dinheiro público para salvar uma empresa privada.” O PT também entrou com requerimento cobrando explicações do presidente do BNDES. Um dia depois da divulgação do acordo, as ações da empresa caíram 9,8%, acumulando uma queda de 60% nos últimos doze meses.

O vice-presidente executivo das Organizações Globo, João Roberto Marinho, e o vice-presidente do BNDES, José Mauro Carneiro da Cunha, se uniram em defesa do negócio. “A Globo Cabo não recebeu tratamento preferencial. A decisão do aporte do banco foi baseada em critérios técnicos”, justificou Marinho. “Fizemos estudos e entendemos que é um excelente investimento para o banco”, defendeu Cunha.

O caso não demorou para virar piada. Os personagens, o roteiro e a ocasião caíram como uma luva no computador do colunista José Simão, da Folha de S.Paulo, que rapidamente mudou o nome da empresa para Globo Cabo Eleitoral.