Assinar embaixo e compactuar com a roubalheira praticada por executivos da Enron, que foi a sétima maior corporação americana e desmoronou como um castelo de areia em menos de um ano, está custando a sobrevivência da quinta empresa internacional de contabilidade e auditoria Arthur Andersen, uma potência desacreditada com 385 escritórios em 84 países e 85 mil funcionários. Os clientes estão correndo para se livrarem de seus serviços e proteger seu próprio prestígio. Segundo o jornal inglês Financial Times, 34 grandes empresas “demitiram” a Andersen desde dezembro. Entre elas, Delta Airlines, grupo farmacêutico Merck, FedEx, gigante do setor de encomendas expressas, Riggs National, maior banco com sede em Washington. É uma debandada em massa – de grandes clientes e de funcionários – num momento em que a empresa é despejada do “Big Five”, o grupo que reunia as cinco maiores empresas do setor (pela ordem, PricewaterhouseCoopers, Deloitte, KPMG, Ernst & Young e Andersen) e se apressa em fazer a correção para o “Big Four”, para se livrar de qualquer contaminação.

Se não for vendida rapidamente, o destino da Andersen é a dissolução pura e simples. Acusada de malversação contábil que permitiu aos principais executivos da Enron desviar US$1,1 bilhão, a Andersen não sairá dessa enrascada com facilidade. Já pagou US$ 217 milhões para evitar um processo movido por investidores do Arizona e tenta, com US$ 750 milhões, finalizar um acordo para conter a inevitável enxurrada de processos de empresas e pessoas físicas prejudicadas com a quebra da Enron. Em um ano, a ação da empresa caiu de US$ 90 para menos de US$ 1, transformando em pó o patrimônio de investidores e de quatro mil funcionários que participavam do fundo de pensão.

Segundo o The New York Times, a empresa está em fase final de negociação de sua venda para a Deloitte Touche Tohmatsu, outro gigante do setor, que já confirmou estar interessada no negócio, mas não quer levar junto seus escombros e seus encargos legais. É uma negociação completamente fora do padrão. O preço, no caso, não é o mais importante. A Andersen não é uma empresa comum. Não é holding nem sociedade anônima. As estruturas internacionais são independentes – ainda que igualmente ameaçadas de evaporar – e as decisões são descentralizadas. Mas todos estão vinculados à Andersen Worldwilde, baseada nos Estados Unidos e, para que qualquer tipo de negociação seja feita, todos os escritórios terão que dar sua opinião. Essa é a menor das dificuldades. Ninguém vai querer levar a parte podre da empresa – inclusive o nome, profundamente comprometido – e arcar com os custos de seus desmandos.

No Brasil, a assessoria de comunicações da empresa limita-se a dizer que “neste momento não há nenhum pronunciamento a ser feito”. Nos Estados Unidos, o porta-voz Patrick Dorton tenta manter a pose: “A Andersen tem diversas opções para continuar a servir seus clientes com sucesso.” Resta saber se sobrará algum cliente.