Compreensão. Eu compreendo a mulher antes de desenhar para ela. Fui criado em uma família de sapateiros e, aos 11 anos, já desenhava para minha mãe. Minha família não era rica, mas meu pai tinha boa reputação na ilha onde vivíamos. Ele me ensinou que é muito importante entender todo o processo, desde o desenho até a confecção. Afinal, há muitos estilistas que só desenham. Eles adoram falar de conceito, mas se você não tem as habilidades tradicionais para transformá-lo em uma peça de verdade, não adianta nada. Quando fui para Londres, em 1980, estudei design de sapatos no Cordwainers College, conheci melhor meu talento e me tornei mais ambicioso. Então hoje posso dizer que consigo fazer sapatos para qualquer tipo de mulher e fazê-la se sentir bonita e feminina.  

Modelo o formato de cada pé e faço as clientes voltar ao ateliê para fazer provas do sapato. Peço a elas que me mostrem o vestido que usarão e lhes farei algo especial. Gosto de ouvir as aspirações das minhas clientes para que saiam de meu ateliê pensando que foram elas que desenharam. É por isso que as mulheres amam meus sapatos. Mais do que acessórios, são peças de arte. E é isso que tenho feito nos últimos 20 e poucos anos. Se não compreendo o desejo delas, nem faço o sapato para não criar frustração depois. Tenho que cuidar de minha reputação. Por isso, nunca deixo uma cliente insatisfeita. Se não posso ou não quero fazer o que ela pede, deixo claro logo no primeiro encontro.
 

Eu posso fazer isso. Comecei a fazer sapatos por causa de minha família e descobri ser bom nisso. Acredito ser capaz de desenhar qualquer tipo de roupa, até um vestido de noiva. Tenho tido algumas ideias. Quem sabe um dia não as coloco em prática.
 

“Sex and the City” elevou a marca Jimmy Choo para um nível completamente novo. Quando o seriado estava no ar na tevê (os capítulos inéditos acabaram em 2004), todo mundo só falava em Jimmy Choo. Mas foi só porque tínhamos uma produção maravilhosa em que as atrizes usavam meus sapatos e alimentavam o burburinho ao redor da marca. Acredito que, quando se é um bom estilista e se mantém um trabalho constante, as pessoas o respeitam mais e realmente endossam sua criação. Sem “Sex and the City”, Jimmy Choo não seria tão festejado em tantos países. Então, eu realmente agradeço a Patricia Field, a mulher por trás de toda a produção de moda da série que foi muito bem-sucedida.  

Devo tudo isso à princesa Diana. Antes dela, ninguém sabia quem era Jimmy Choo. Depois que ela morreu, a imprensa veio atrás de mim e, então, o mundo todo soube que era eu quem fazia seus sapatos. Ela me ajudou muito. Tudo o que Lady Di fazia virava notícia. Diana era uma mulher extremamente generosa, mas insegura. Achava seus pés feios e não usava sandálias de jeito nenhum – nem as que eu fazia para ela. Ao mesmo tempo, a princesa era muito humilde e fazia questão de acompanhar as pessoas quando iam embora de sua casa. Quando comecei a trabalhar para ela, tinha pouco dinheiro. Então, a primeira vez que ela me acompanhou até a saída, passamos por vários carros luxuosos e ela perguntou qual deles era o meu. Eu dizia que não precisava que me acompanhasse, mas ela fazia questão. Embora meu carro fosse velho e pequeno, ela parecia não se importar. No dia em que ela morreu, eu entregaria um par de sapatos no Palácio de Kensington. Acabei guardando-os como lembrança de nossa amizade. 

Com inspiração. Ser elegante tem a ver com se sentir inspirado e ser inspirador. Muitas vezes você vai a uma loja e compra um sapato sem marca. Mas, quando você o veste, se sente bem, porque ele é confortável para você. Às vezes é por causa do material ou do formato, não importa. É pura inspiração. Bom gosto é se sentir bem com o que se veste. 

Eu não gosto da palavra cafona. É preciso respeitar todos os gostos. Não há nada cafona se você entende toda a sedução que uma roupa inspira. Sigo a filosofia budista na minha vida e acredito que temos que sempre ser respeitosos. Se você diz coisas ruins, você sente coisas ruins na sua vida, por isso evito falar mal dos outros. 

Basta olhar para todas as revistas e jornais e está lá: Kate Middleton. Ela está sempre impecável, vestindo roupas belíssimas e se comportando de forma elegante. Kate segue os passos de Diana e também apoia novos estilistas, emprestando parte de sua exposição na mídia. Além disso, o povo britânico a ama.  

Agora eu diria o Brasil. Quando disse à minha esposa que viria para cá, ela brincou: “Cuidado, há muitas mulheres bonitas por lá!” E, claro, as pessoas são muito bonitas mesmo, mas a moda daqui também é muito benfeita. Como é a primeira vez que venho ao País e me encontro com brasileiros, tudo é novo e me inspira a ter novas ideias. Antes de vir para São Paulo, estive no Rio de Janeiro e vi um desfile. Até a passarela é diferente. Uma vez, um amigo me disse: “Jimmy, você parece um passarinho preso numa gaiola.” Hoje eu entendo o que ele quis dizer. Você precisa viajar para lugares diferentes e ver coisas novas para se sentir inspirado. Para um designer, é fundamental viajar pelo mundo e conhecer coisas novas, culturas diferentes. Quanto mais viajado você é, mais criativo e sábio se torna.  

Tenho uma boa equipe. Minha sócia, Tamara Mellon, era editora de acessórios da “Vogue” britânica e sempre teve muitos contatos. Ela é o verdadeiro ícone da Jimmy Choo Ltda. Imagine a cena. Em 1988, eu estava no início de minha carreira, quando recebi uma ligação da revista “Vogue”. Eles estavam me convidando para um especial de oito páginas com as minhas criações. Pedi para ela repetir de onde era. Eu não podia acreditar! Estar na “Vogue” era um sonho. Oito anos depois, quando Tamara me convidou para lançar uma linha comercial, não pude recusar. Nossa parceria foi muito boa. O segredo para o sucesso eu aprendi com meu pai: trabalho duro e trabalho em equipe. Não se pode nunca deixar de respeitar e agradecer as pessoas que trabalham com você. E, claro, se divertir com isso. 

É preciso promover as marcas, fazer eventos, lançar novas coleções e estar na mídia, principalmente em momentos de crise. Quando você promove seu nome e explica seu trabalho para as pessoas, faz com que elas entendam o valor daquilo. No ponto em que cheguei, as pessoas estão dispostas a pagar o preço que for por uma criação minha, porque elas me valorizam. Na alta-costura, o sapato cabe no pé perfeitamente. Se você compra o sapato na loja, é o seu pé que tem que caber nele. É diferente, por isso sempre há um público cativo. Em tempos de crise, talvez o retorno financeiro não seja tão bom, mas não faço sapatos para serem simplesmente os mais caros e extravagantes do mundo. Gosto de materiais finos, mas posso editar a criação, retirando itens que a encareceriam. Eu já sou milionário, tenho o suficiente. Gosto de ser um homem simples. Não me importo em produzir sapatos mais simples e acessíveis para que outras clientes possam tê-los.
 

Pela contribuição para a moda. As pessoas me veem ao lado da família real, da Madonna e da Katie Holmes e não imaginam que já passei por momentos difíceis. Não vou aos lugares e digo: “Ei, você me deve um grande cheque.” Venho para contar minha história, mostrar meu trabalho e dividir meu amor. No meu país, uma criança de 9 anos pode ver meu nome e minha foto em um livro escolar de história. Isso o dinheiro não pode comprar. Sempre que o governo e as embaixadas pedem minha colaboração, estou disponível. Quero fazer com que mais pessoas visitem a Malásia e conheçam minha cultura. É preciso ser gentil com as pessoas para que elas tenham uma boa recordação sua.