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Gabriela, a jovem com cheiro de cravo e cor de canela criada pelo escritor baiano Jorge Amado, ganhou vida e estampa sensual ao ser interpretada por Sonia Braga em 1975 – e dela não mais descolou. Na terça-feira 19, uma nova Gabriela vai dar o ar da graça na Rede Globo. Tem o mesmo ar brejeiro, a mesma cabeleira ondulada e volumosa, os mesmos olhos amendoados – só que atende pelo nome de Juliana Paes. Não deve ter sido fácil encontrar uma substituta para um dos papéis mais emblemáticos da telenovela brasileira. Mas a escolha de Juliana para protagonizar “Gabriela”, que ocupará a faixa das 23 horas, não poderia ter sido mais feliz. Ao saber da notícia, Sonia passou o cetro, como manda o figurino: enviou flores à colega e disse que a opção foi perfeita. E quem há de negar?

Essa novidade já seria o suficiente para se colar na televisão nos fins de noite, mas o remake prevê mais atrações. A promessa é de que a temperatura seja ainda mais quente que o habitual – e não se fala aqui apenas da metáfora da seca que serve de pano de fundo da trama criada nos anos 1950. A história se desenvolve a partir da longa estiagem que massacrou o Nordeste, provocando uma onda de migrações em busca de melhores condições de vida. Gabriela é um desses retirantes a quem o sol só fez bem. Com suas ideias libertárias, Jorge Amado colocou mais tempero em sua personagem: ela representa a alegria e a inocência da sexualidade plena. Autor da nova versão, Walcyr Carrasco vai seguir a receita baiana: “A sensualidade dela vai dar o que falar.”

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TEMPERO DE RAÇAS
A brasileiríssima Gabriela (Juliana Paes) e o sírio Nacib
(Humberto Martins): sedução e impulsividade

Com 14 anos de carreira e nove telenovelas no currículo, Juliana não se intimidou com o convite e conta que “se encontrou” com o papel durante a preparação. Ela teve aulas de culinária, pois, além de linda, a personagem seduz com suas iguarias. Também caprichou no sotaque e, para modelar ainda mais as famosas curvas, fez corrida e exercícios diários. “Assim que soube que iria interpretá-la, me debrucei sobre o livro, depois sobre a sinopse e os capítulos”, disse ela à ISTOÉ. O ar seco e quente do sertão, onde aconteceram as gravações externas, ajudaram a atriz a dar vida à cozinheira de mão-cheia e sentimentos à flor da pele. “Vi de onde Gabriela veio, entendi o porquê de ela ser assim: tão feliz com o pouco que tem, porque para ela isso já é muito, já está bom”, afirma Juliana.

O par da morena é “seu” Nacib, defendido agora por Humberto Martins. À ISTOÉ, ele disse que considera o casal um ícone da literatura brasileira e da televisão. Para viver o papel do sírio que se apaixona e tenta cortar as asas de Gabriela, o ator mergulhou na cultura árabe e também na história de Ilhéus, local onde se passa a história. Nas telas, a cidade vai aparecer como uma república de coronéis dos anos 1920 que se vê ameaçada pela chegada do progresso e do capitalismo. O momento também é de transformação social, em que a hipocrisia e a submissão começam a se curvar à liberdade. E tem Gabriela. Segundo a consultora de moda Heloísa Marra, Juliana Paes possui o biotipo perfeito para o papel: “Formas com volume, sem ser muito magra, pele morena que traduz a mistura de raças, cabelo ondulado refletindo um mix de índio, mulato, europeu e negro.” Quem a escolheu como protagonista foi o diretor Mauro Mendonça Filho, que classifica a personagem como exemplo de mulher livre: “Temos muito o que aprender com ela.” Ou apenas admirar.  

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