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CRIME
A doméstica Maria José da Silva Dias Irmã confessou ter intermediado
o assassinato, a mando da patroa, Maria Selma Costa dos Santos

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Maria Selma Costa dos Santos, hoje com 70 anos, era uma mãe zelosa com os três filhos, duas meninas e um garoto, o primogênito José Fernandes. O marido, o empresário José Geraldo dos Santos Reis, conhecido como Caseca, atualmente com 91 anos, vem de uma família tradicional e rica, com raízes em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense (RJ). O pai dele, Gastão Glicério Gouveia José Geraldo dos Santos Reis, fora um político poderoso, prefeito duas vezes do município e dono de um patrimônio que incluía terrenos, imóveis, sítios, lojas comerciais, laboratório médico, franquia da Habib’s e cartórios. Na década de 2000, Caseca decidiu passar o controle dos negócios para o filho.

No início, tudo ia bem e o clã se reunia em datas festivas como qualquer família. Até que, há cerca de cinco anos, mãe e filho começaram a se desentender devido à desconfiança dela de que ele estaria lesando os familiares na partilha. Numa briga, ela o chamou de “ladrão” e ele revidou dizendo que só não quebrava a cara dela porque era uma mulher. Maria Selma passou a desconfiar que o filho estaria tramando sua morte, e teria sido mais rápida do que ele. Ele foi alvejado às 19h30 de 29 de novembro do ano passado quando saía da casa da mãe. Fria, falsa, ela teria se despedido dizendo “vai com Deus, meu filho.” Após ouvir os estampidos, mudou o tom: “Graças a Deus, este vai para o inferno.” Reis tinha 51 anos e era pai de um garoto de 15.

As frases constam dos depoimentos dados à polícia por testemunhas. Maria Selma nega que tenha sido a mandante do assassinato, mas a empregada doméstica Maria José da Silva Dias Irmã, 42 anos, confessou ter intermediado o crime. Ela declarou ter dado R$ 5 mil de adiantamento ao pistoleiro Isac Paula de Moraes, 22 anos, e mais R$ 15 mil após a realização do serviço. Todos estão presos. O assassino era segurança de rua e deu dois tiros na cabeça e um no tórax do filho de Selma. Ela foi presa na segunda-feira 21 por policiais da Delegacia de Caxias. “Ao mesmo tempo em que ficamos felizes por colocar na cadeia uma assassina, a gente se ressente ao ver essa degradação total do ser humano, por motivo tão torpe”, diz a promotora Cláudia Porto Carrero, garantindo que as provas contra Maria Selma são incontestáveis.

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VÍTIMA
José Fernandes cuidava dos negócios da família e dava mesada
para a mãe e as irmãs. Ao lado, o prédio onde morava em Ipanema

O crime causa enorme perplexidade porque subverte um dos instintos considerados mais básicos da natureza humana: mães são capazes de defender os filhos até a morte, jamais mandar matá-los. Para a psicóloga Vera Lúcia Moris, às vezes as relações familiares são as mais doentias. “A pessoa alucina numa situação de ódio e perseguição e pode eleger um filho como algoz. E quando tem dinheiro envolvido, as pessoas ficam mesquinhas e cegas”, diz. Infelizmente, ninguém percebeu a tempo a perigosa relação doentia que se estabeleceu entre mãe e filho.

“Até cinco anos atrás, Selma dizia que o Casequinha (apelido de Reis) era um filho maravilhoso. Os dois se davam muito bem”, revelou uma amiga da família que preferiu não se identificar. No entanto, segundo ela, a mãe passou a suspeitar do filho porque ele se recusava a mostrar a contabilidade dos negócios para a família, abrindo alguns dados apenas para o pai idoso e doente. Não que faltasse dinheiro. “Ele (Reis) dava R$ 8 mil de mesada para as duas irmãs e também para a mãe”, contou. Mas enriquecia mais que os outros. Reis morava em um apartamento em Ipanema, um dos bairros mais caros do Rio, e tinha outros imóveis. A mãe se ressentia principalmente por conta da filha caçula, Maria Lúcia, 47 anos, com quem ela se dava melhor.

As brigas mudaram o tratamento entre eles. Reis não mais chamava Maria Selma de mãe e, sim, de “dona Selma.” Seis meses antes do crime, houve uma discussão muito séria e a divisão dos lucros, mais uma vez, estava no foco. “Ela ficou sentida por muitos dias. Depois, começou a dizer que o filho queria matá-la”, contou uma empregada da casa. Era o fim dos laços de afeto. De seu lado, Reis chegou a comentar com a mulher, a professora Vania Filgueiras Lopes, seu receio de que algo ruim acontecesse. Em depoimento à polícia, Vania revelou a conversa com o marido: “Ele chegou tenso. Perguntei o que estava havendo e ele disse ‘a dona Selma está armando alguma coisa para mim’.” Infelizmente, Reis estava certo.

DIÁLOGOS REVELADORES
Algumas frases de Maria Selma, gravadas com autorização judicial em ligações telefônicas:

"Se ela (enfermeira que cuidava do marido) falar alguma coisa (sobre as brigas dela com o filho) não vai sobrar nem alma nem carne."
(Em conversa com a nora)

"Vou combinar com o advogado para orientar ela (uma das empregadas) a dizer que o José Fernandes era calado e não falava com ninguém."
(Com uma das filhas)

"Tudo vai depender do que a garota (outra enfermeira) falar. Pobre é uma merda mesmo. É tudo lixo. Se ela quiser me ferrar, vou mover céus e terra. Eu tenho dinheiro."
(Com a nora)

"Vamos vender logo a casa pra não ter que dar nada pro filho dele (neto dela, filho da vítima)"
(Com uma filha)