Dois fatos, aparentemente distantes, desta semana que passou demonstraram que o Brasil ainda não aprendeu a pensar diferente no que diz respeito a um dos grandes problemas do século XXI: a mobilidade urbana. Na segunda-feira, com a crise europeia batendo à porta, o governo federal anunciou novas medidas de estímulo à economia. E repetiu uma velha fórmula: incentivos às montadoras para que, com o IPI menor, desovem seus estoques. Dois dias depois, uma greve dos metroviários parou a cidade de São Paulo.

A confusão generalizada serviu de pretexto para a exploração eleitoral do tema. Afinal, São Paulo e o Brasil não podem parar.

Hoje, há praticamente um consenso sobre o apagão dos transportes no Brasil. Grandes metrópoles, e não apenas São Paulo, apresentam sérios problemas de mobilidade urbana.

E as políticas públicas, em vez de atenuar, reforçam o caos. Mais automóveis nas ruas, mais obras de infraestrutura e, com o que sobra, algum estímulo ao transporte público, com a construção de linhas de metrô e corredores de ônibus.

Esse modelo, no entanto, se esgotou e não resolverá os problemas, por maiores que sejam as verbas de um PAC da Mobilidade. É hora, mais do que nunca, de buscar soluções inovadoras. Eis a pergunta que deve ser feita: por que, em pleno século XXI, as pessoas ainda vão ao trabalho, e não é o trabalho que vai até elas? Será que não é mesmo possível reorganizar as relações de trabalho na era da internet e da banda larga?

Pois uma das grandes saídas para as metrópoles é o estímulo ao trabalho remoto. Nos dias de hoje, seria plenamente possível reorganizar o espaço urbano, oferecendo incentivos adequados ao setor privado. Por que não, por exemplo, reduzir impostos de empresas que tenham a maior parte dos funcionários trabalhando remotamente e, portanto, demandando menos serviços públicos? Por que não estimular a criação de escritórios compartilhados, em vários pontos das grandes metrópoles, para que essas pessoas tenham estações de trabalho, onde possam se conectar com seus colegas por Skype, e conviver com gente de outras empresas? E mesmo nos casos onde o trabalho presencial é necessário, pode-se estimular a contratação de pessoas que morem em regiões próximas.

O Brasil está prestes a sediar a maior conferência ambiental dos últimos anos, mas o modelo mental dos governos e das empresas ainda
é do século passado. Vivemos ainda na era do petróleo, do automóvel e da degradação das riquezas naturais e do espaço público. Será que não é hora de mudar?