Projeto Respiração – O que não tem fim nem tem começo/Fundação Eva Klabin, RJ/ até 1º/7

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ENERGIA VITAL
Instalação de Maria Nepomuceno se integra a coleção de cinco séculos de arte

Em 2006, a artista carioca Maria Nepomuceno atirou aos foliões do bloco carnavalesco Cordão da Bola Preta, no Rio de Janeiro, uma bola cor-de-rosa de dois metros de diâmetro, com a inscrição da palavra amor. As imagens da folia com a bola – até ela tomar uma facada e dar seu último suspiro no asfalto – foram editadas no vídeo “Expiro”. A mesma bola já havia circulado pela praia do Leme num domingo de sol. Embora Maria não tenha subido a Santa Teresa para soltar a bola “Amor” no tradicional bloco de marchinhas e maxixes do morro, hoje na exposição “O que Não Tem Fim Nem Tem Começo”, na Fundação Eva Klabin, ela evoca simbolicamente o bloco Céu na Terra. Isso porque, na grande sala da casa que pertenceu à colecionadora Eva Klabin, Maria Nepomuceno despejou milhares de contas e esferas azuis, de tons e tamanhos variados, que pendem de lustres e se amontoam sobre os valiosos tapetes, sofás e as peças de arte de quatro continentes e até cinco séculos de idade. Os volumes azuis são como corpos que caíram do céu.

“O azul para mim está relacionado à espiritualidade e transcendência”, diz Maria Nepomuceno. “Realizar esse trabalho é como dotar de energia vital uma sala imortalizada pela história”, afirma a artista, que também relaciona os azuis de sua instalação aos trabalhos do francês Yves Klein e à performance “Alviceleste”, da carioca Marcia X. Maria foi convidada pelo curador Marcio Doctors a integrar, ao lado de Sara Ramo, a 15ª edição do Projeto Respiração, que desde 2004 propõe diálogos de arte contemporânea com o acervo da Fundação Eva Klabin.

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IMAGINAÇÃO
Jardim de Eva Klabin é ocupado por instalação em forma de rede

Há quase dez anos Maria Nepomuceno se dedica a construir objetos escultóricos desenvolvidos a partir de tradições manuais da costura e do artesanato. Ela começou em 2003, trabalhando com chapéus de palha trançada, procurando radicalizar suas formas e escapar da convenção dos objetos utilitários. Depois vieram as redes. No jardim da Fundação Eva Klabin ela expõe uma de suas redes inutilizáveis. Trata-se de um objeto sedutor e convidativo, que não pode ser usado, apenas contemplado.

Com sua instalação solar, Maria Nepomuceno ocupa pela primeira vez o jardim da casa. A luminosidade e a vitalidade sugeridas por seus trabalhos contrastam com os elementos da outra intervenção desse Projeto Respiração. “Penumbra”, de Sara Ramo, é uma instalação noturna, criada dentro do quarto, do closet e do banheiro da antiga dona da casa, concebida para ser vista no escuro. Como se estivesse na sala escura de um cinema, o espectador é convidado a enfrentar seus fantasmas e encarar aquilo que é inatingível com os olhos: a imaginação.