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AGRESSÕES
Jodie Foster e John C. Really  formam um casal que
“perde a cabeça” ao tratar do bullying sofrido pelo filho

Condenado há 35 anos pelo estupro de uma garota californiana, o diretor francês Roman Polanski é considerado foragido pela Justiça americana. Seu novo filme, no entanto, se passa nos EUA, local onde ele não pode pôr os pés, a não ser que se apresente à polícia. Explica-se: na verdade, “Deus da Carnificina”, seu novo filme que estreia no País no dia 7 de junho, mas já pode ser visto em pré-estreias, se passa em um falso apartamento nova-iorquino construído em um estúdio nos arredores de Paris. Baseado na premiada peça homônima da escritora francesa Yasmina Reza, ele poderia ter sido filmado em um apartamento parisiense como no texto original. Mas, em mais uma de suas arrogantes provocações, Polanski fez questão de que a ação se desse no bairro do Brooklyn e ousa criticar o estilo politicamente correto americano.

É nele que moram os dois casais do enredo – os Longstreet (John C. Really e Jodie Foster) e os Cowan (Christopher Waltz e Kate Winslet), reunidos na sala do primeiro para discutir polidamente um caso de bullying: numa briga de crianças, o filho dos Cowan atacou com um pedaço de madeira o menino dos Longstreet. A conversa, que se inicia com uma amena rispidez, aos poucos resvala para uma guerra verbal em que toda a urbanidade se esvai. Frases como “vivemos em Nova York, uma cidade civilizada”, dita pela personagem de Jodie Foster, uma escritora engajada na ajuda humanitária aos países africanos, são ridicularizadas de forma cáustica. Em outro momento, a personagem de Kate Winslet estraga livros de arte da anfitriã, atacando o conforto que adviria de seu “cultivo da sensibilidade”.

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Polanski escreveu o roteiro e selecionou os atores enquanto estava em prisão domiciliar em seu chalé na Suíça, em 2009. Para apimentar ainda mais a provocação, deu o papel do garoto agressor ao seu filho Elvis, 14 anos. Convidou também o designer americano Dean Tavoularis para fazer o cenário e importou dos EUA todos os itens de cozinha e banheiro do falso apartamento. Para as cenas de Nova York vistas da janela, lançou mão da computação gráfica. “Foram exatamente 400 efeitos digitais”, diz Polanski, que sente saudades de traba­­lhar em Hollywood, onde era tratado como rei antes de abusar de uma menor de idade.