AS PORTAS DA PERCEPÇÃO – ARTHUR OMAR/ Oi Futuro, BH/ até 17/6

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SINCRONIA
“Ciência Cognitiva dos Corpos Gloriosos” é um exercício de contemplação

“Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como é: infinito.” Assim escreveu o poeta William Blake, em 1790. A frase inspirou o escritor Aldous Huxley a fazer experimentos com LSD, nos anos 1950, e registrá-los em um livro chamado “As Portas da Percepção”. Nesse trabalho, Huxley declara que a mente humana filtra a realidade não permitindo a passagem de todas as impressões e imagens existentes. A mente é como uma porta, um limite a ser transposto. E a imagem de uma porta entreaberta, de cuja fresta emana uma luz incandescente, é o ponto de partida para a exposição que exibe a série fotográfica “As Portas da Percepção”, de Arthur Omar, no Oi Futuro de Belo Horizonte.

A porta de Omar é a de um forno: símbolo da transformação desde o tempo dos alquimistas. Tomando a antropologia visual como norte para sua criação, o objetivo do artista sempre foi o de abordar as outras realidades e suas relações por meio da fotografia. Nesses trabalhos recentes, ele chega à radicalidade ao criar uma forma de registro dos limites da representação visual, não só dentro da fotografia, mas dentro do processo mental de formação das imagens. “Foi uma espécie de laboratório. Ir além do elemento humano e concentrar-se no processo da percepção. É uma exposição radical”, declarou Omar à IstoÉ.

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ENTRADA
A imagem de uma porta é o ponto de partida da mostra de Arthur Omar

Composta de 33 fotografias inéditas, uma videoinstalação, um vídeo e cinco fotografias da série “A Menina do Brinco de Pérolas” – em que o artista modifica com a câmera o olhar da mulher do quadro mais famoso do flamengo Johannes Vermeer –, a mostra é um contínuo no qual cada imagem é uma etapa de um processo de pesquisa sobre a cognição. Na série “As Portas da Percepção” há imagens polimórficas e transparentes. O fotógrafo cria monstros, figuras humanas, fantasmagorias ao captar a instabilidade de jatos d’água. Ou seriam cristais? “Eu quis perceber outras possibilidades que, no fundo, estão cristalizadas nas nossas estruturas básicas de percepção. Será que tudo o que recebemos na mente é produto de uma construção ou existem estruturas universais que estão além?”, questiona. A teoria visual proposta por Omar é complementada por dois trabalhos em vídeo nos quais o artista deixa clara sua ideia de fotografia expandida para além da câmera. Na videoinstalação “Ciência Cognitiva dos Corpos Gloriosos”, de 2006, ele explora o estado contemplativo e lento da percepção e da imagem a partir da performance dos atores alemães Grabrielle Osswald e Wolfgang Sautermeister. Ao longo do trabalho, fogos de artifício aparecem sobrepostos aos rostos e olhos dos atores. A cena poderia muito bem ser descrita pela frase “se o olho não fosse como o sol, não perceberíamos sua luz”, do alemão Johann Wolfgang von Goethe. Esta citação está no início da segunda obra em vídeo apresentada, “Um Olhar em Segredo”, e que também é uma espécie de portfólio em que o público pode ter contato com trabalhos anteriores e percorrer os caminhos que levam ao desvelamento da percepção, segundo Arthur Omar.