Presidente nacional do PRB, o partido criado pelo ex-vice-presidente José Alencar, diz que na campanha municipal vai mostrar que é possível fazer política sem mensalões, Cachoeira ou sanguessugas

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SUPERAÇÃO
"Não nascemos para
ser legenda de aluguel"

Pereira venceu os desafios de uma infância
sofrida e agora quer eleger o prefeito de São Paulo

Filho do relacionamento proibido de uma empregada doméstica com o patrão, horas depois de nascer Marcos Pereira foi doado pela mãe a um casal no Espírito Santo. Ainda durante a infância seus pais adotivos se separaram e o menino foi criado pela avó materna. O pai biológico nunca soube de sua existência. Apesar das dificuldades, Marcos Pereira fez cursos técnicos, aos 17 anos era dono de um escritório de contabilidade e formou-se em direito pela Universidade Mackenzie. Foi para o Rio de Janeiro e depois para São Paulo. Com 31 anos passou a ocupar a vice-presidência da Rede Record, cargo que exerceu até 2009. Hoje Marcos Pereira tem 40 anos, leciona no Instituto Brasiliense de Direito Público e em maio do ano passado assumiu a presidência nacional do Partido Republicano Brasileiro (PRB), legenda criada pelo ex-vice-presidente José Alencar e outros líderes políticos que deixaram o PL logo depois que o partido foi flagrado no Mensalão. Depois de uma conversa reservada com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na segunda-feira 14, Pereira recebeu a reportagem de ISTOÉ. “Em toda a minha vida tenho vencido os desafios que se apresentam. Agora chegou a hora de construir um partido político que não se envolve com Mensalão, Cachoeiras e sanguessugas”, afirmou. “Vamos fazer esse partido crescer, eleger mais de 100 prefeitos e cerca de 1,4 mil vereadores.” Trata-se de uma tarefa difícil. O PRB atualmente tem oito deputados federais, 19 estaduais, 54 prefeitos e 780 vereadores. Pereira tem dedicado 85% do seu tempo para a gestão do partido e aposta alto na eleição de São Paulo, com a candidatura de Celso Russomano, o ex-deputado que ficou conhecido pela luta em defesa do consumidor e que, segundo as pesquisas mais recentes, tem 16% das intenções de voto, atrás apenas do ex-governador José Serra.

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"Em São Paulo, o Netinho de Paula (PCdoB) tem
conversado conosco e admite a possibilidade de 
compor uma chapa que tenha o PRB como cabeça"

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"Em apenas dois meses, Marcelo Crivella não
comprou nenhuma lancha e revolucionou o
esquema de gestão no Ministério da Pesca"

ISTOÉ

Muitos dos chamados pequenos partidos servem como legenda de aluguel para os grandes, que precisam obter maior tempo de televisão, por exemplo. Por que acreditar que com o PRB será diferente?

Marcos Pereira

Temos uma forma diferente de encarar a política e gerir o partido. Vamos disputar a eleição municipal com mais de 300 candidatos a prefeito em todo o País. O que nos difere é que queremos efetivamente construir um partido. E para desenvolver um partido é preciso disputar uma eleição majoritária. Foi assim com os que hoje são grandes. O PT teve várias derrotas, mas enquanto o Lula perdia o partido crescia. Nós não nascemos para ser partido de aluguel.

ISTOÉ

Mas o PT nasceu com um forte apelo ideológico, reunia uma ampla base sindical e abrigava boa parte da esquerda. Qual é a pegada do PRB?

Marcos Pereira

O partido foi criado por pessoas que não aceitam o desrespeito com o dinheiro público. É o caso do ex-vice-presidente José Alencar e outros líderes como o senador do Rio, Marcelo Crivella, que deixaram o PL quando foi descoberto o envolvimento do partido com o esquema do Mensalão. Nossa pegada será mostrar que não estamos envolvidos com Cachoeira, Mensalão ou sanguessugas. Todas as grandes legendas estão envolvidas com escândalos que já cansaram a população. A origem do nosso partido deixa claro que somos diferentes. O nome de partido republicano traduz exatamente o nosso desejo de resgatar a questão da paixão pela república, do respeito pela coisa pública, pelo bem público. E isso ficará claro para o eleitor. 

ISTOÉ

Será então a vez de o PRB empunhar a bandeira da ética na política? 

Marcos Pereira

Temos autoridade moral para isso, mas vamos além. Vamos mostrar que é possível administrar como gestores da coisa pública, com planejamento e priorizar a gestão sobre a política.
 

ISTOÉ

que isso significa na prática? 

Marcos Pereira

Queremos mostrar para a população a forma republicana de governar. É fazer e fiscalizar, acompanhar o que está sendo feito. Cobrar para que cada passo do processo seja cumprido com rigor. Isso é gestão. Isso é administrar. É possível governar para todos e não para grupos com interesses particulares. 

ISTOÉ

O senador Marcelo Crivella tem feito isso no Ministério da Pesca? 

Marcos Pereira

Claro. O Crivella é um sujeito honesto e trabalhador dedicado. Em dois meses, ele já mostrou muito. Repito, em apenas dois meses, ele não comprou nenhuma lancha e revolucionou o esquema de gestão no Ministério da Pesca. 

ISTOÉ

O sr. pode citar um exemplo concreto? 

Marcos Pereira

No início de abril, Crivella foi a Santa Catarina entregar as licenças da pesca da tainha, que é muito forte para a economia do Estado e para a vida dos pescadores. O período da pesca é maio, junho e julho. Em anos anteriores, o ministério entregava a licença faltando um mês para terminar a temporada, trazendo grandes prejuízos para a população local. O Crivella entregou um mês antes do início. Isso é gestão. Um empresário do ramo da pesca escreveu em um artigo que quem defendia a proposta de extinção do Ministério da Pesca, para fusão com o Ministério da Agricultura deve estar se moendo de raiva. 

ISTOÉ

Para essa mensagem chegar à população é preciso tempo de televisão e dinheiro para fazer uma campanha com visibilidade. O PRB tem recursos para isso? 

Marcos Pereira

Esse é o nosso grande desafio. Fazer uma campanha diferente, que nos impeça de, daqui a alguns anos, passarmos por algo semelhante ao que condenamos. Precisamos de uma reforma política para resolver essa questão. 

ISTOÉ

Qual é a reforma política que o PRB defende?

Marcos Pereira

Não somos a favor do financiamento público das campanhas nos moldes que está proposto hoje. Isso irá favorecer só os grandes partidos. Achamos que precisamos assegurar a pluralidade de ideias. Queremos rever o tempo de televisão, mas não acho que deve ser igual para todos. 

ISTOÉ

Mas o que efetivamente o partido defende? 

Marcos Pereira

Precisamos discutir bastante com a sociedade. Trazer esse debate para público. Penso que podemos fazer algo como nos Estados Unidos, onde as pessoas físicas podem fazer doações e a coisa funciona. Aqui o limite para a doação de pessoas físicas é muito pequeno. Se pudéssemos estimular os simpatizantes a doarem nos moldes dos EUA talvez fosse uma solução. 

ISTOÉ

Nas últimas eleições, o ex-presidente José Alencar foi a principal âncora do partido. E agora?

Marcos Pereira

Mantemos vivos os ideais do José Alencar e temos grandes puxadores de voto, como o Crivella no Rio e o Celso Russomano em São Paulo. 

ISTOÉ

O PRB aposta alto na eleição de São Paulo. Qual a estratégia? 

Marcos Pereira

Teremos candidatos próprios em três capitais: São Paulo, Salvador e Maceió. Mas São Paulo é a única eleição que tem repercussão nacional. Nossa dificuldade é o tempo de tevê. Vamos ter cerca de um minuto apenas. Preciso buscar composição com partidos maiores para superar isso. 

ISTOÉ

Por que partidos maiores iriam abrir mão de uma candidatura para compor com o PRB?

Marcos Pereira

Em troca temos a oferecer a candidatura do Celso Russomano, que está em segundo lugar nas pesquisas, perdendo apenas para o ex-governador José Serra. É um candidato conhecido, sem rejeição. Esse é um patrimônio considerável. 

ISTOÉ

O PRB apostava em um entendimento com o PMDB, mas isso não deu certo… 

Marcos Pereira

Continuamos a conversar com o PCdoB , PSB e PDT. A proposta é formar um bloco e em junho o candidato que estiver melhor representará o grupo como cabeça de chapa. A ideia é fechar esse acordo até o fim do mês. 

ISTOÉ

Mas o PDT e o PCdoB também têm candidatos próprios e com força eleitoral (Paulo da Força e Netinho de Paula)?

Marcos Pereira

A única hipótese de não manter o candidato próprio é se algum outro desse grupo conseguir estar na frente de Celso Russomano. 

ISTOÉ

E eles admitem abrir mão da cabeça de chapa? O deputado Gabriel Chalita, do PMDB, já disse não?

Marcos Pereira

O Netinho de Paula, do PCdoB, tem conversado conosco, inclusive com o próprio Celso Russomano, e admite a possibilidade de compor uma chapa que tenha o PRB como cabeça em São Paulo. 

ISTOÉ

E o PDT? 

Marcos Pereira

O Paulinho diz que é candidato, mas o PDT não fechou as portas e estamos em conversação. 

ISTOÉ

Em São Paulo, o PSB é a noiva disputada pelo ex-presidente Lula e pelo governador Geraldo Alckmin. Faz parte da base do governo federal e do secretariado do governador. Por que fechariam com o PRB? 

Marcos Pereira

Somos a melhor opção para eles. 

ISTOÉ

Por quê? 

Marcos Pereira

Vivemos a mesma situação, pois apoiamos o governo de Dilma Rousseff e na Assembleia de São Paulo compomos a base de apoio do governador Geraldo Alckmin. 

ISTOÉ

E o PSB também pensa assim?
 

Marcos Pereira

Falei para o governador Eduardo Campos, presidente nacional do PSB, que somos a melhor opção para o PSB em São Paulo. Não desagradamos nem ao governo federal nem ao governo estadual. 

ISTOÉ

 E como o governador reagiu?

Marcos Pereira

Ele gostou da ideia. Falou que viajaria para a China e voltaríamos a conversar na sua volta, o que deve ocorrer nos próximos dias. 

ISTOÉ

O ex-presidente Lula não procurou o PRB em São Paulo? 

Marcos Pereira

Falei com ele há poucas horas. Ele comentou as pesquisas e manifestou que gostaria de ter nosso apoio. Mas eu disse que não podemos abrir mão da candidatura própria, pois queremos construir um partido e, para isso, precisamos disputar a eleição, principalmente em São Paulo. O presidente Lula compreende muito bem essa posição. 

ISTOÉ

Quanto o PRB pretende gastar na eleição para prefeito de São Paulo? 

Marcos Pereira

Cerca de R$ 30 milhões. Isso é pouco em relação ao que os grandes pretendem gastar. 

ISTOÉ

Como vão arrecadar esses recursos? 

Marcos Pereira

Estamos conversando. 

ISTOÉ

Algum partido dos chamados grandes já ofereceu ajuda para a campanha do PRB em troca de eventual apoio no segundo turno?

Marcos Pereira

Não. Todos sabem que queremos mesmo fazer política de forma diferente. Esse tipo de coisa pode estar na origem do Mensalão. O Brasil clama por algo novo, por algo transparente e nós somos o novo. 

ISTOÉ

Por seu tamanho, o PRB não participa da CPMI do Cachoeira, mas como o sr. avalia a atuação dessa comissão?
 

Marcos Pereira

Somos a favor de que tudo seja apurado. Mas acho que a CPI precisa melhorar. Não pode haver nada secreto. A regra da legislação brasileira é a publicidade. O segredo é exceção. E a CPI parece não estar atenta a isso.