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A imagem acolhedora do Rio de Janeiro não está condizente com o tratamento dado pela rede hoteleira aos participantes da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que acontece na cidade entre 13 e 22 de junho. Como a capital fluminense só tem 33 mil leitos e são esperados 50 mil participantes, os hotéis aproveitaram para faturar alto, elevando abusivamente as diárias. E mais: de forma oportunista, têm obrigado os hóspedes a comprar um pacote mínimo que eleva o valor da hospedagem em mais de 1.000% (leia quadro acima). Em função disso, uma comissão do Parlamento Europeu chegou a anunciar que não vem mais ao Brasil. A ganância do setor hoteleiro pode prejudicar o sucesso da conferência, para a qual ainda se espera a vinda de cerca de 100 chefes de Estado do mundo todo, e comprometer a credibilidade do País para receber os megaeventos agendados para os próximos anos.

As reservas são intermediadas pela agência de turismo Terramar, que venceu a licitação do Itamaraty para executar o serviço. “Não fomos procurados pelo Parlamento Europeu”, diz Rogério Frizz­i, diretor da empresa. “Inclusive, depois que a polêmica veio a público, oferecemos opções econômicas à comitiva, mas não tivemos resposta.”

Além de preços altos, os hotéis de três a cinco-estrelas somente garantem a reserva para quem compra pacotes mínimos de sete dias. Para o eurodeputado holandês Gerben-Jan Gerbrandy, o governo brasileiro deveria intervir. “A Rio+20 oficial tem apenas três dias. Alguns membros do Parlamento planejavam reservar apenas duas noites, mas teriam de pagar de sete a dez noites”, protestou o deputado, que calculou o custo da missão em 200 mil euros (cerca de R$ 500 mil). Com isso, há procura por estabelecimentos em cidades próximas, como Niterói e Petrópolis, e o prefeito Eduardo Paes conclamou os cariocas a alugar quartos para os visitantes.

Os altos preços das diárias também comprometem a participação de parlamentares brasileiros. A Câmara dos Deputados decidiu não custear a viagem dos deputados federais ao Rio. “Fiquei sabendo que o preço cobrado é algo em torno de R$ 1,6 mil a diária. Na minha avaliação, é um preço abusivo”, reclamou o presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), que vai convocar o setor hoteleiro do Rio de Janeiro para explicar o porquê de tarifas tão elevadas. Segundo ele, 100 parlamentares iriam acompanhar o evento. O presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara, deputado Sarney Filho (PV-MA), disse que os aumentos demonstram a insensibilidade dos donos de hotéis. “Em vez de aproveitar para atrair, estão aproveitando para extorquir”, disse Sarney, assegurando sua presença na conferência. “Eu garanto que vou porque não fico em hotel, fico na casa de amigos.”

O presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), Flávio Dino, disse que a visão imediatista dos empresários prejudica o desenvolvimento do turismo no País. Segundo ele, em outros lugares, os megaeventos não impactam tanto as tarifas. “A conferência não deve ser vista apenas como chance de realizar lucros, como se o mundo fosse acabar amanhã”, reclamou Dino. Com a Europa em crise, não são somente os parlamentares se assustaram com os preços. As delegações dos governos reduziram em 30% o número de representantes para cortar gastos, segundo o chefe da seção de cooperação da Delegação da União Europeia no Brasil, Jérôme Poussielgue. Uma pesquisa do site Hoteis.com, divulgada em março, chegou a apontar os hotéis cinco-estrelas do Rio como os mais caros do mundo, com diária média de R$ 1.178, preço 21% mais alto do que a segunda colocada, Nova York. Por conta da conferência, o que estava nas alturas atingiu a estratosfera. Procurada por ISTOÉ, a Associação Brasileira da Indústria Hoteleira (ABIH-RJ) não quis se pronunciar.

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Depois de receber muitas queixas, o Ministério da Justiça resolveu entrar em campo e abriu uma investigação para apurar eventuais abusos econômicos. O Procon do Rio de Janeiro também está acompanhado a situação. Com vários megaeventos no calendário da cidade, como a Jornada Mundial da Juventude em 2013, a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016, se não agir logo, o Brasil corre o risco de ficar refém da rede hoteleira e espantar turistas, em vez de atraí-los.

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Colaboraram: Wilson Aquino e Michel Alecrim


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