E o azarão François Hollande levou a Presidência da França na primeira eleição, em 30 anos, em que o titular do posto não foi reconduzido a novo mandato.
O estilo fl amboyant, midiático, personalista e, na visão de alguns, demasiadamente “esportista” do perdedor Nicolas Sarkozy, que adotava as corridas matinais como rotina de exposição de imagem, não caiu mesmo no gosto conservador dos franceses. E ele saiu derrotado. Sarkozy quis ser uma espécie de John Kennedy da França, esbanjando sua jovialidade e presunção aos quatro ventos, ao lado da bela primeira-dama, Carla Bruni. Não vingou no papel. O golpe fatal, dizem os observadores, foi o desastroso escorregão de marketing que deu, às vésperas da decisão, quando em um dos últimos comícios resolveu tirar seu relógio de ouro do pulso, avaliado em mais de R$ 100 mil, momentos antes de cumprimentar eleitores simpatizantes – talvez temendo que eles lhe surrupiassem a preciosa joia. Em outro momento da campanha, pegou mal o nababesco jantar que realizou com uma turma de milionários no Hôtel de Crillon para comemorar a passagem ao segundo turno. Por essas e outras Sarkozy foi sempre tido como um pária em meio ao panteão de líderes como De Gaulle, Mitterrand e Chirac. Um presidente distante do povo, impopular e prisioneiro do seu mundo de grandes salões.
Sarkozy sai do governo sem nenhuma marca eloquente. Deixa de legado uma dívida abissal, um país em crise e um clima de insatisfação generalizada que o sucessor Hollande difi cilmente poderá conter no curto prazo sem um claro respaldo da Comunidade Econômica Europeia – que ele ainda não tem.
Nesse cenário perigoso, abre-se uma ampla avenida de oportunidades para aventureiros radicais e suas bandeiras políticas de extremismo conservador. Pior para o mundo, lamentável para a França. Hollande tem pouco tempo para mostrar a que veio e, curiosamente, conquistou simpatizantes para sua tarefa fora das fronteiras continentais, entre emergentes como o Brasil, que, discretamente, festejou o fato de ter alguém mais sintonizado com as ideias desenvolvimentistas sempre defendidas por Dilma.