hélcio nagamine

NOVOS RUMOS Karla fechou seu consultório de cardiologia para trabalhar com embelezamento

O brasileiro pode até fazer vista grossa para o seu estado de saúde. Mas é raro vê-lo se descuidar do visual. A forte disposição de buscar a fonte eterna da juventude, retardando todos os sinais possíveis –
e sobretudo visíveis – de envelhecimento, mantém lotados consultórios de dermatologia e clínicas especializadas. As agendas também se enchem
a cada lançamento de creme, peeling com substâncias químicas, cristal ou ouro, produtos contra marcas de expressão, botox e laser destinado a rejuvenescer. São as demonstrações de força da poderosa indústria da cosmiatria, o ramo da dermatologia que cuida dos aspectos estéticos da pele, dos cabelos, das unhas e da aparência geral do indivíduo.

A fama crescente desses tratamentos para adiar a crueldade inevitável do tempo – e dar a cada cliente uma versão individual do cálice da juventude perpétua do Santo Graal – alterou o perfil do público nas clínicas dermatológicas. “Cerca de 90% da clientela marca consulta com fins estéticos. A maioria busca algum método de rejuvenescimento”, atesta a dermatologista Valéria Campos, especialista em cosmiatria e formada em fotomedicina pela universidade americana de Harvard. Além de representar um pote de ouro ao alcance das mãos, a corrida pela beleza cria algumas demandas para os médicos. A primeira é a necessidade de dar duro para ficar em dia com as novidades. “Quem quiser conhecer a fundo as novas técnicas deve freqüentar cursos e reuniões científicas”, aconselha Celso Sodré, presidente da seção fluminense da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

A dermatologista Valéria é outra adepta da constante atualização. “Vou duas vezes por ano aos Estados Unidos me atualizar com os avanços”, revela. O arsenal tecnológico de seu consultório, em Jundiaí (SP), inclui emissores de sete tipos de laser, infravermelho e luzes pulsadas. Na pele castigada e amarrotada, esses instrumentos atenuam os efeitos de inimigos dos mais diferentes níveis de profundidade, de marcas de expressão às quase invencíveis celulites (conheça os novos tratamentos de Cosmiatria no quadro). Um sintoma do aumento do interesse pela especialidade são os 600 médicos inscritos no curso de pós-graduação em medicina estética da Faculdade Souza Marques, no Rio de Janeiro. A duração é de dois anos. “Em cada um de nossos seis postos, os alunos se aprimoram melhorando gratuitamente a imagem de 80 pessoas por dia”, informa Aloizio Faria de Souza, coordenador do curso.

Essa conversão de especialistas de várias áreas da medicina à cartilha da beleza é liderada por dermatologistas, angiologistas e endocrinologistas. Mas não há restrições. A carioca Keila Azeredo, oftalmologista de formação, decidiu ampliar seu portfólio de tratamentos para atender às solicitações dos pacientes. “Várias vezes encerrei consultas de pessoas com vista cansada ou miopia resolvendo dúvidas sobre rugas e flacidez de pele”, diz Keila, que agora combina os tratamentos para o bem das retinas com os peelings e as aplicações de botox.

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Há também quem tenha aderido ao mundo belo e retocado da cosmiatria pelo seu poder, não menos nobre, de restaurar a auto-estima junto com a derme e a epiderme. Caso da cardiologista carioca Karla Costa. Ela atendeu centenas de pessoas com problemas cardiovasculares que carregavam certa consternação por serem vítimas de um mal crônico. Não abandonou a cardiologia, mas fechou o consultório e dedica a maior parte do tempo à clínica de estética. “Antes precisava atender 40 pacientes por dia para pagar as contas. Hoje trabalho com menos da metade”, contabiliza. A cosmiatria parece agradar a todos. Enquanto pacientes festejam a estética recuperada, os novos profissionais comemoram a plástica nos orçamentos.


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