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Padrinho político do ex-diretor do DNIT Luiz Antonio Pagot, o líder do PR no Senado, Blairo Maggi (MT), passou a semana passada tentando explicar porque seu nome e o dele são citados em diálogo entre o senador Demóstenes Torres e o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Da conversa, interceptada pela Polícia Federal, depreende-se que Pagot sabia muito mais do que declarou aos parlamentares na ocasião da crise que derrubou a cúpula do Ministério dos Transportes no ano passado. Vítima ou cúmplice das articulações de Cachoeira, Pagot quer ser chamado a depor na CPMI que investiga o esquema. “Ele está descontrolado, é um fio desencapado”, alerta Blairo, que tem procurado marcar distância do antigo aliado. “Pagot é maior de idade, tem CPF e opinião própria.”

Além de influenciar nos rumos da CPI, o depoimento do ex-diretor pode ser determinante no retornou ou não do PR ao governo. Desde que perdeu os Transportes, o partido, sob comando de Blairo, aliou-se no Senado ao PTB de Gim Argello para reconquistar o espaço perdido. A presidenta Dilma Rousseff prometeu discutir o assunto numa reunião, ainda sem data. “Se o governo disser ‘não queremos vocês’, vamos atuar de forma independente”, avisa.

ISTOÉ – Diálogos interceptados pela PF sugerem que Luiz Antônio Pagot sabia do esquema da Delta e de Carlinhos Cachoeira. O que o sr acha?
Blairo Maggi – São conversas sobre decisões que nós estávamos tomando naquele período da saída dele e do Alfredo Nascimento do Ministério dos Transportes. Quando fui abordado pelo senador Demóstenes, que fez críticas duras a eles, disse que Pagot faria declarações técnicas e foi o que ele fez. Hoje entendo a preocupação do senador.

ISTOÉ – E qual era a preocupação?
Blairo – Em determinado momento, o Pagot foi convidado para um jantar na casa do senador no qual estariam presentes algumas dessas figuras ligadas ao esquema. Imagine se ele revelasse isso, a confusão que seria. Naquele momento poderia ter vindo a público o que veio agora.

ISTOÉ – Então, Pagot ainda não disse tudo o que sabe…
Blairo – Não posso responder por ele. Pagot deixou o PR e não é mais do governo. Ele é maior de idade, vacinado, tem CPF, tem opinião própria.

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ISTOÉ – Mas ele era uma indicação sua e só se manifestava com sua autorização. Um depoimento dele na CPI o preocupa?
Blairo – Absolutamente. O que ele vai dizer na CPI diz respeito a ele, apenas. E até onde eu sei, ele está muito irritado com o fato de ter sido defenestrado por um possível complô desse pessoal do Cachoeira e da Delta. Ele está descontrolado, é um fio desencapado. Estou tão curioso quanto você para saber o que ele tem a dizer. É uma incógnita.

ISTOÉ – A PF também interceptou diálogos que falam do interesse de Cachoeira em pegar contratos no Mato Grosso.
Blairo – Até onde eu sei, esses contratos não chegaram a ser realizados. Era uma intenção. Mas quem tem de responder pelo governo do Estado é o atual governador. Não tenho nada com isso. Até onde sei, ele abriu uma auditoria para checar esses contratos. Na minha gestão, não lembro de ter estado com ninguém da Delta e não assinei nada com eles.

ISTOÉ – Como empresário, o sr. nunca desconfiou da ascensão meteórica da Delta?
Blairo – Não se pode culpar uma empresa por ela crescer. A Delta chegou ao mercado de uma forma revolucionária, trabalhando sempre com preços mais baixos e muita eficiência. Acho que em determinado momento, o olho cresceu mais que a barriga e a barriga mais que a boca, e houve um desvio. Talvez a CPI venha a descobrir o alcance disso e como aconteceu.

ISTOÉ – O inquérito da operação Monte Carlo indica que a queda da cúpula dos Transportes foi articulada por Cachoeira e a Delta. O PR foi injustiçado?
Blairo – Não se trata de ser injustiçado, mas muitas perguntas ficaram no ar. Sabia-se que no Dnit as obras estavam em aceleração máxima, as coisas estavam acontecendo. Quando vieram as denúncias, não entendíamos de onde vinham. Agora, ficou evidente que houve manipulação de notícias. Não queremos crer que isso veio do governo, mas a presidente aproveitou a situação. Talvez já estivesse querendo fazer mudanças. O problema é que a imagem do partido sofreu um dano irreparável.

ISTOÉ – Nem todas as denúncias foram fabricadas. Há claros indícios de desvios e irregularidades nas obras do Dnit.
Blairo – Evidente, mas aí precisa entrar em cada contrato, estudar caso a caso. O próprio PR apresentou à ministra Ideli Salvatti um relatório sobre o acompanhamento que o ministério estava fazendo de problemas identificados pelos órgãos de controle. É importante dizer que o Dnit é um órgão executor que tem suas superintendências estaduais, que são ocupadas por outros partidos, como PT e PMDB. Uma coisa é a responsabilidade jurídica, outra é a responsabilidade política. A CGU vai identificar exatamente quem foi que assinou o quê, mas no plano político fomos punidos antecipadamente.

ISTOÉ – O Pagot já disse que dentro do partido havia gente pedindo a cabeça dele, como o deputado Valdemar Costa Neto. A crise não foi culpa culpa do partido também?
Blairo – Não sei do Valdemar, conheço ele muito pouco. Na ocasião, questionei o ministro Alfredo, que é o presidente do PR. Ele falou da insatisfação de muitos parlamentares com o atendimento um pouco duro do Pagot. Ele é militar, quase foi Almirante. Pessoas dessa área são muito disciplinadas, mas às vezes duras no trato. Isso trouxe inquietações. Seja como for, a saída do Pagot foi uma perda para o País e para o Mato Grosso.

ISTOÉ – Em que sentido?
Blairo – Quando ele estava lá, o Dnit pagava mensalmente R$ 1,2 bilhão em obras em execução. Desde que ele saiu, esse volume caiu para R$ 120 milhões por mês. O País está parado, isso é uma vergonha, um crime de lesa-pátria. Em relação ao Estado, o Pagot foi responsável por reabrir os processos de construção das BR 163, 164, 242 e 158, além da ferrovia Centro-Oeste. Isso é essencial para conseguirmos escoar a produção do Estado. Há dez anos, produzíamos 30 mil toneladas de grãos, hoje são 36 milhões, com potencial para mais 10 milhões, e ainda usamos as mesmas rodovias.

ISTOÉ – Da forma como a CPI foi instalada, o sr. acredita que vai acabar em pizza?
Blairo – Não acho que vai acabar em pizza, mas é uma CPI diferente das demais. As outras tinham que investigar para chegar a uma conclusão, esta já tem todos os elementos levantados pela PF. É mais um esforço de juntar isso e organizar. Não se deve esperar momentos bombásticos. Não haverá espetáculo. O que há de informações está vazando na imprensa. Vai servir para chamar as pessoas e pedir explicações. Acho que uma CPI ajuda a entender os erros e preveni-los no futuro.

ISTOÉ – Com tudo o que já saiu do senador Demóstenes Torres, o sr. acha que ainda há condições políticas para a permanência dele no Senado?
Blairo – Não há nenhuma condição. O senador cometeu um grande equívoco ao subir à tribuna no início do escândalo e dizer que não tinha nada a ver com aquilo. Isso fez com que mais de 40 senadores se solidarizassem. Agora vemos que ele mentiu, e isso é bastante grave.

ISTOÉ – É uma obrigação do Conselho de Ética pedir a cassação dele quando se reunir na terça-feira 8?
Blairo – Não é uma obrigação. Acho que as evidências vão levar o Conselho a fazer isso. Não dá para esperar outro resultado.

ISTOÉ – Em relação aos demais deputados citados e governadores, como deve ser a condução desse processo?
Blairo – Doa a quem doer, vamos esclarecer. É um momento importante. Quem tem problemas, sabe que um dia terá de acertá-los. Deve ser um julgamento responsável, e o relator já deixou isso claro. Usar a CPI para palanque político, para desgastar, por conta de eleições, acho que não tem sentido.


ISTOÉ – Como deve ser a relação do PR com o governo? Haverá um rompimento definitivo ou o partido vai ficar nessa política pendular?
Blairo – Com a saída do Alfredo Nascimento do Ministério dos Transportes, o Paulo Sérgio assumiu, mas o PR nunca o reconheceu como quadro do partido. Desde então, se tentou saber do Executivo qual seria o espaço que teríamos no governo. Passou-se quase um ano e não houve resposta. Quando cobrei da ministra Ideli e soube que não teríamos mais nada. Por isso, rompemos.

ISTOÉ – Por isso veio a ideia do bloco com o PTB?

Blairo – Exatamente. Fomos procurados pelo PTB para, juntos, termos mais influência dentro da Casa e maior participação nas relatorias e comissões. Outros partidos fazem isso. Depois, entrou o PSC. Conversei com a presidenta e combinamos que faríamos uma nova conversa para definir os rumos do PR e desses partidos no governo. A conversa agora é a nível de bloco. Estamos votando as matérias de forma consensual.

ISTOÉ – E se o governo não ceder?
Blairo – Nós não estamos colocando precondição. Não tem qualquer pedido lá no Palácio do Planalto. Se o governo disser “não queremos vocês”, vamos atuar de forma independente, olhando matéria por matéria, o que é de interesse do País.

ISTOÉ – Se a presidenta oferecer ao PR uma nova pasta, o sr. é o nome natural para assumir como ministro?
Blairo – Só se for um convite individual. Caso contrário, o bloco tem que indicar o nome. A presidenta Dilma já me convidou uma vez para assumir os Transportes, mas não pude aceitar por conflito de interesses, pois tenho empresas no setor. Não seria ético.

ISTOÉ – Essa demanda por espaço é vista muitas vezes como fisiologismo. O sr concorda?
Blairo – Eu não gosto de toma lá da cá. A presidenta Dilma não assumiu qualquer compromisso e tem tentado aliar perfis técnicos com uma pitada política. Concordo com ela. Infelizmente, esse aparelhamento é uma tradição da política brasileira. Acho que uma forma de melhorar isso é acabar com a verticalização nos ministérios, a porteira fechada, montando equipes com quadros de vários partidos. Isso fará bem à administração pública.

ISTOÉ – Grande parte dos escândalos políticos que vivemos é fruto da relação promíscua de políticos com empresas doadoras de campanha. O financiamento público pode acabar com essa lógica perversa?
Blairo – Sou contra o financiamento público. As campanhas são muito caras e não dá para bancar isso com dinheiro da União. Não vejo problemas em doações de empresas. Eu mesmo contribuí para a campanha de Dilma, e não pedi nada em troca. Não tenho sequer um contrato com o governo. Mas apostei no projeto político que está fazendo o País crescer, e com isso eu também ganho. Mas entendo que muitas vezes o político fica amarrado, dependente da certas empresas. Por isso, defendo mais doações de pessoas físicas, como nos Estados Unidos. Lá fazem doação pela internet e por cartão de crédito. Temos que facilitar isso e envolver a sociedade. Quantos mais pulverizadas as doações, mais liberdade o político terá.

ISTOÉ – A aprovação do novo Código Florestal impôs uma derrota ao governo e a presidenta Dilma Rousseff avisou que vai vetá-lo. Qual sua posição?
Blairo – Acho que a presidenta tem um problema grande na mão. Nenhum outro projeto de lei foi tão debatido e minuciosamente estudado como esse. Não houve manobra regimental. Chegamos a um texto equilibrado, justo. A presidenta deve considerar a legitimidade do Congresso, ou pode criar um problema político sério. Se for vetar, que sejam vetos pontuais, acompanhados de medidas provisórias para evitar a insegurança jurídica.

ISTOÉ – Qual o ponto mais importante?
Blairo – A retirada do artigo 62, que saiu do Senado, e que trata da recuperação das áreas de preservação permanente às margens dos rios. Acho que esse é o ponto que os ambientalistas mais reclamam, e por isso tentamos melhorar. Se ela vetar e recolocar o que o Senado aprovou como medida provisória, acho que ficará bom.

ISTOÉ – Como empresário, qual será o impacto do novo código em seus negócios?
Blairo – Absolutamente nenhum. Eu estou dentro da faixa do Centro Oeste e do Norte onde as ocupações foram feitas anteriormente e não temos nenhum tipo de passivo ambiental nas nossas propriedades. Compramos algumas áreas no final de 2002, que tinham passivos e foram recuperados. Inclusive levei uma comissão de senadores numa de nossas fazendas para mostrar como é possível fazer recuperação das matas ciliares e como é o sistema de uma propriedade com ISO 14.000. Este ano, minha empresa foi a única no mundo do agronegócio a ganhar o certificado de atividades ambientais socialmente corretas.
 


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