Um ano após a Eco-92, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, recém-formado, participei e tive a honra de ganhar um concurso de monografias com o tema A Tecnologia e o Meio Ambiente. Hoje, reli meu texto Desenvolver É Preciso, Destruir Não É Preciso. Fiquei chocado. Quase não avançamos nesses 20 anos.

À época, minha principal conclusão foi de que os maiores desafios para o desenvolvimento sustentável não eram tecnológicos, mas políticos e econômicos. De lá para cá, o Protocolo de Kyoto, a única iniciativa concreta adotada, ruiu, pois a maior economia do planeta, os EUA, não aderiu a ele.

Ponderei também que a questão ecológica precisa ser vista sob um prisma abrangente, incluindo também questões sociais. Caminhamos tanto nessa direção que a solução virou problema. O meio ambiente perdeu foco, enquanto outros assuntos ganharam relevância, inclusive na agora Rio+20.

A nova ordem econômica empurrou para a direção contrária. A entrada da China na Organização Mundial do Comércio em 2001 deslocou o centro de gravidade da economia mundial para os países emergentes, permitindo que centenas de milhões de pessoas deixassem a pobreza. Apenas no Brasil, 57 milhões de pessoas emergiram às classes A, B e C. Na China e na Índia, os números foram muito maiores.

Do ponto de visto econômico e social, os avanços foram brutais. Em apenas uma década, o mundo ganhou um número de novos consumidores de classe média ou alta similar ao de todo o século XX. Novos consumidores, novos poluidores.

Já a questão ecológica, grave há 20 anos, hoje é exponencialmente pior. Ignorá-la significa condenarmos nossos filhos e netos a ajustes brutais de padrão de vida.

Uma vez que os desafios são políticos, assim também hão de ser as soluções. Urge encontrarmos pontos de interesses mútuos e dividirmos sacrifícios e ganhos. Países ricos têm de reconhecer que o grosso da destruição ambiental e da poluição planetária foi, e ainda hoje é, causado por eles. Grande parte do custo de recuperação ambiental é sua responsabilidade. Por outro lado, a maior parte do crescimento vem e virá de países emergentes, que precisam cobrir os custos para torná-lo sustentável.

O agronegócio e a indústria precisam assumir suas responsabilidades ambientais, mas os consumidores têm de aceitar que certas medidas ecologicamente necessárias têm custos expressivos que serão repassados aos preços dos produtos.

Governos devem incentivar formas sustentáveis de energia, mas os ecologistas, que se opõem à construção de usinas hidrelétricas, devem propor formas alternativas mais sustentáveis, e os consumidores precisam reduzir o desperdício no consumo de energia.

A questão ecológica não pode ser ignorada, mas tampouco pode impedir investimentos fundamentais para o desenvolvimento, como tem acontecido no Brasil. A infraestrutura do País sofre com a lentidão na análise de projetos e na liberação de licenças ambientais. Impactos devem ser devidamente considerados e corrigidos, mas é preciso rapidez e objetividade, sem vieses dogmáticos.

Tomo emprestadas as palavras que usei há 20 anos e que espero não voltar a usar na Rio+40: “Técnicos e cientistas têm demonstrado competência para desempenhar o seu papel. É preciso cobrar dos políticos a mesma competência.”