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O mercado imobiliário americano não é um castelo de cartas. Foi ele o responsável, na semana passada, por mais um tremor nas Bolsas de todo o mundo, assustadas com o impacto que a explosão de mais uma bolha especulativa teria na economia dos Estados Unidos e, em conseqüência, de todo o resto do mundo. Há, sem dúvida, motivos para se preocupar. O crédito imobiliário é um dos pilares que sustentam o estilo de vida americano, baseado no consumo e na facilidade de contrair dívidas a juros baixos. O sistema funcionou bem durante décadas, enquanto era um instrumento de realização de sonhos – e não um novo teto para especuladores. Agora que aparecem fissuras nos seus alicerces, não é o caso de se imaginar que a engenhosa estrutura vá desabar. Como em todo processo de crise nos mercados, haverá vítimas – a começar pela confiança dos investidores –, será necessário reerguer algumas paredes, mas o edifício continuará de pé.

O vendaval nas Bolsas é previsível – qualquer motivo é bom para grandes investidores que ganham fortunas com as fortes oscilações nas cotações de ações. Da mesma forma, estava mais do que prevista a nova crise americana. O mundo assistia ao balançar do arranha-céu do mercado imobiliário americano, à irreal valorização das propriedades, sabendo que, mais cedo ou mais tarde, a farra iria acabar. E, quando os americanos sofrem, todos nós sofremos. Mas não será um padecer imenso. No Brasil, a expectativa de uma era de um boom imobiliário já a partir deste ano é real e não deve ser frustrada. Por aqui não há bolha, mas uma forte demanda por novos imóveis e uma rara disponibilidade de recursos para atender a pelo menos parte dela. Se dermos sorte, começamos a erguer um edifício como o que os americanos construíram no século passado. Aquele que balança, mas não cai.

Luiz Fernando Sá é Redator Chefe da Revista ISTOÉ Dinheiro