Depois de mergulhar o mundo na maior carnificina da história da humanidade – as duas guerras mundiais –, a Velha Europa renunciou ao seu passado belicista e foi em busca da “paz perpétua” preconizada pelo filósofo Immanuel Kant. Em 25 de março de 1957, Alemanha, França, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo assinaram o Tratado de Roma, criando a estrutura da Comunidade Econômica Européia, um ambicioso plano de união econômica e aduaneira. Cinqüenta anos depois, rejuvenescida, a União Européia se consolida como um poderoso e próspero bloco econômico que reúne 27 países-membros – a quase totalidade da Europa – com 493 milhões de habitantes e cerca de 30% do PIB mundial.

Mas o sucesso econômico não trouxe de volta a grandeur do velho continente porque este perdeu influência política. No pós-guerra, a Europa precisou do Plano Marshall para se reerguer e teve que delegar sua segurança ao poderio militar dos Estados Unidos. Este, via Otan, garantiu a unificação européia pela contenção do apetite do urso soviético e também dissipou os temores de uma Alemanha reconstruída. Em conseqüência disso, a Europa se tornou “um gigante econômico e um anão político e militar”. É emblemático o fato de que em 1992, quando o Tratado de Maastricht criou o euro, o quintal da Europa – os Bálcãs – iniciou uma guerra civil que só foi detida anos depois quando os EUA intervieram.

Hoje, nas palavras de Robert Kagan, para a Europa desfrutar os confortos da paz kantiana, ela precisa deixar a Tio Sam a tarefa de policiar o mundo, que permanece teimosamente hobbesiano (o homem como lobo do homem”, segundo Hobbes). Chegou a hora de a experiente senhora decidir se quer continuar assim ou se vira gente grande e assume suas responsabilidades geopolíticas. A vida adulta pode começar aos 50.

Cláudio Camargo é Editorialista da Revista ISTOÉ