CRUZ-DIEZ – CIRCUNSTÂNCIAS E AMBIGUIDADES DA COR/ Galeria Raquel Arnaud, SP/ até 2/6

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VIGOR
Carlos Cruz-Diez, diante de painel realizado para
as obras da Casa Daros, no Rio de Janeiro
 

Aos 89 anos, Carlos Cruz-Diez é um dos maiores artistas latino-americanos em atividade. Nascido em Caracas, começou em Paris suas experiências com as propriedades físicas da cor e do movimento. Na cidade das luzes, onde ainda vive, se tornou um dos grandes nomes da arte cinética. “Circunstâncias e Ambiguidades da Cor”, individual do artista em São Paulo, traz obras inéditas que mostram seu fôlego e sua atividade prolífica – até hoje fontes inesgotáveis de experimentação e influência para novas gerações. Em exposição, pinturas e instalações como “Duchas de Indução Cromáticas”, em que Cruz-Diez trabalha pela primeira vez com a ideia de um espaço imersivo, onde o observador é banhado pelas cores primárias do espectro visual. Em entrevista à Istoé, ele reflete sobre seus 60 anos de carreira e a produção de arte da atualidade.

Muitos artistas do século XX abandonaram o figurativismo pelo abstracionismo. Como se deu esse percurso para o sr.?
Em 1951, li o livro que me influenciou a começar essa investigação, “A Teoria da Cor”, de Goethe. Quando comecei a estudar artes, o que mais me despertava a curiosidade e me dava alegria era quando começava a mexer com a palheta de cores, a colorir. Nessa mesma época comecei a aventura de denunciar a situação do meu país, a Venezuela. Mas, com o passar dos anos, comecei a questionar o que estava fazendo. Não possuía nenhuma transcendência nem provocava alguma mudança na situação social que eu estava tentando comunicar.

E de que forma a cor acabou provocando essa transcendência?
Depois de pensar muito tempo, cheguei à conclusão de que tinha que inventar a minha arte. E isso é o que faz um artista. E inventar é descobrir, é elaborar uma estrutura conceitual que nos permite descobrir coisas presentes na realidade, mas que ninguém as vê. Você converte essas coisas invisíveis em um discurso próprio e inteligível para os demais. Quando fracassei ao pensar que é possível modificar uma situação social com um quadro, passei a buscar o mundo das cores. Mas a cor em si é algo dado. Desde os impressionistas, a questão da cor já tinha sido trabalhada. Mesmo assim, acabei descobrindo uma brecha que nenhum artista tinha tratado: a relação entre a cor e o espaço. E descobri a situação mutante da cor. Há uma frase muito bonita de Aristóteles que diz que a “cor é um conflito entre a luz e as trevas”. Mas ninguém havia trazido essa questão para o mundo da arte até então. Por isso hoje me defino, acima de tudo, como um pintor, mas não sou um pintor de telas.

O que o sr. pensa sobre a arte contemporânea?
Quando eu estudava, nos anos 1940, o centro da informação era Paris. Nova York passou a ser o centro a partir de 1965. E, para essa informação se espalhar, isso levava dois, três anos. Hoje a comunicação é instantânea. Mas isso tem um porquê. Marcel Duchamp reinventou a arte. Essas ideias lutaram entre si para serem ouvidas, foram aceitas e depois começaram a entrar em decadência. Estamos neste momento, estamos vivendo o fim da era Marcel Duchamp. Todos os artistas ao redor do mundo estão fazendo a mesma coisa: se apropriando de objetos e criando conceitos, transformando os objetos em urinários. A academia está vivendo a academia de Duchamp. É preciso oxigenar o mundo da arte. E acho que isso está muito próximo de acontecer. Nina Gazire

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PINTURA SENSORIAL
Instalação “Duchas de Indução Cromática”, em São Paulo