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O prefeito Pellisa (abaixo) apoiou e a população referendou a proposta

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Ao longo de décadas, a paisagem de Rasquera, vilarejo da Catalunha, a 200 quilômetros de Barcelona, foi marcada por plantações de amendoeiras e oliveiras. Culturas que, infelizmente, não evitaram que a cidade fosse à bancarrota, em 30 anos de crise financeira e dívidas de R$ 3 milhões. Agora, a expectativa é a de que a maconha salve o município. Numa iniciativa pioneira no mundo, o conselho municipal da pequena cidade baixou lei, referendada por 57% da população de 900 habitantes na terça-feira 10, que autoriza o Executivo a alugar terrenos para o plantio de marijuana, como dizem os espanhóis. A área total do cultivo da erva é equivalente a dez campos de futebol. O argumento do prefeito Bernat Pellisa foi convincente: era isso ou “medidas de austeridade e arrocho fiscal”.

Pellisa também acertou um convênio com a Associação Barcelonesa Canábica de Autoconsumo (ABCDA), que vende maconha legalmente para cinco mil associados. A organização se comprometeu a pagar R$ 1,3 milhão por ano pelo aluguel da área onde a erva deve ser cultivada. “A previsão é de que em cerca de dois anos a dívida acabe”, destacou o conselheiro municipal de Rasquera, Román Borrás. Apesar da aprovação popular ao projeto, não há garantias de que ele vingará. Na Espanha, o consumo de pequenas quantidades de maconha é permitido, mas o cultivo não. E o Ministério da Saúde avisou que tão logo a primeira semente seja plantada a polícia vai agir.

A cidade, porém, já começou a faturar. Somente na assinatura do convênio, a ABCDA pagou R$ 82 mil à prefeitura. E a repercussão mundial da medida foi tão grande que o conselho municipal a comparou a um investimento de R$ 6 milhões em publicidade. Por isso, tiveram o cuidado de registrar “Rasquera” como marca e evitar que outros se aproveitem do nome do povoado. O sociólogo Renato Athayde, ativista da descriminalização da maconha no Brasil, festejou a iniciativa. Para ele, a proibição da comercialização da erva traz grandes prejuízos aos cofres do governo. “Não se consegue proibir o consumo, cria-se um mercado paralelo que gera violência e ainda se deixa de arrecadar impostos”, diz. Sem dúvida, essa é uma maneira peculiar de transformar dívida em fumaça.

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