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INSISTÊNCIA
Após seis sessões de terapia e com o casamento por um triz, Marcela e Rodrigo
mudaram de especialista e conseguiram, enfim, se entender novamente

Quando saiu do consultório do primeiro terapeuta, o casal Rodrigo Porto, 31 anos, e Marcela Nagashima, 29, não tinha muito o que comemorar. Ambos continuavam sentindo o mesmo peso na relação que os levara a buscar ajuda. Ela continuava convicta de que a traição recém-descoberta do marido selaria o fim do casamento. Ele clamava por uma segunda chance. E o tão esperado auxílio terapêutico parecia não surtir efeito. Do mesmo modo que Marcela e Rodrigo, muitos casais já experimentaram a frustração de sentir que a terapia conjunta não ajudou a melhorar – ou salvar a relação. “Quando trabalhamos com casal, na maior parte das vezes só um lado está interessado e nem sempre conseguimos envolver o outro cônjuge na terapia”, diz Mônica Galano, professora do curso de especialização de terapia da família e de casal da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Mas será mesmo que marido e mulher precisam estar presentes para se beneficiar? Durante os últimos anos, os estudos na área ratificaram a necessidade de o par estar junto na terapia. Um novo trabalho, porém, descobriu uma brecha que pode ajudar muita gente: ao analisar homens e mulheres submetidos à terapia separadamente, o psicólogo Howard Markman, da Universidade de Denver, nos Estados Unidos, constatou que, quando só elas vão ao consultório, os resultados são tão bons quanto quando o companheiro as acompanha. O mesmo não acontece quando só eles encaram o tratamento.

A ideia de Markman ainda é polêmica. “Sou contra essa linha. Você pode acabar reforçando uma situação crônica e negativa do relacionamento”, afirma o psiquiatra e psicanalista Moises Groisman, coordenador da clínica Núcleo-Pesquisas, no Rio de Janeiro, uma das primeiras instituições a aplicar a terapia familiar no Brasil. “É bom que se instaure o conflito durante a consulta porque isso evidencia o que está acontecendo entre o par.” Markman concorda com o colega brasileiro de que o melhor dos mundos seria ter ambos no divã. Mas insiste que sua descoberta pode trazer muitos benefícios. “Nossa pesquisa mostra uma opção para as mulheres cujos maridos não querem comparecer ao terapeuta”, disse Markman à ISTOÉ.

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Na difícil equação montada para salvar um casamento, porém, não só o interesse do casal conta. Em artigo polêmico publicado na revista “Psichoterapy Networke”, periódico especializado editado nos Estados Unidos, o professor da Universidade de Minnesota William Doherty atira contra a própria categoria. “Às vezes o profissional, em especial quando ainda está no início da carreira, não tem as habilidades necessárias para lidar com o campo de guerra armado pelo casal no consultório”, disse à ISTOÉ. Doherty escreveu o texto-provocação após ouvir a reclamação de vários de seus clientes e ver dois casais de amigos se separarem depois de tentativas frustradas de tratamento. “A de casal é a forma mais difícil de terapia e muitos profissionais não são bons em realizá-la.” No Brasil, parte da formação exigida aos terapeutas de casal é prática. Mesmo assim, não é fácil atender às demandas de marido e mulher em crise. “É comum eles chegarem com a expectativa de que o terapeuta irá agir como um juiz do relacionamento, decidindo quem está certo”, diz Denise Zugman, presidente da Associação Brasileira de Terapia Familiar. “Não basta ter só embasamento teórico, também é preciso agir muito rapidamente e ter um ‘feeling’ sobre a hora certa de se posicionar”, afirma a psicanalista Márcia Mélega, que trabalha com casais há 33 anos.

Marcela, por exemplo, já estava prestes a desistir depois das seis sessões de terapia quando seu marido pediu para insistir só mais um pouco e buscar outro especialista. Ela acabou concordando. “Temos uma filha juntos e, por isso, antes de me separar eu queria entender bem quem era esse homem com o qual me casei”, diz ela. Com o novo especialista, porém, veio a surpresa: aos poucos, a relação foi melhorando. “É fácil perceber como mudar de terapeuta influenciou. Antes, sabia que não estava dando certo porque as brigas seguiam.” Hoje, as discussões escassearam, ela já não pensa mais em se separar e consegue fazer o mea-culpa na crise do relacionamento. Tudo isso, graças a uma boa relação a três.

 

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