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SEM RUMO
Principais caciques do DEM se mostram
preocupados com o futuro da legenda

Pelos tapetes do Congresso Nacional é possível acompanhar a derrocada do Democratas, antigo PFL. Ali, ex-caciques da legenda, como Antônio Carlos Magalhães e Marco Maciel, transitaram, desde o governo Sarney até o final da gestão de Fernando Henrique, pelos corredores com a imponência de quem comanda ou tem acesso irrestrito ao poder. Hoje, o desligamento do senador Demóstenes Torres, uma das principais vozes da oposição, que acabou pego em interceptações da Polícia Federal em diálogos suspeitos com o contraventor Carlinhos Cachoeira, é suficiente para, nos bastidores da Câmara Federal e do Senado, fazer ressurgir os comentários de que uma fusão com o PSDB ou PMDB é tudo o que pode sobrar ao Democratas. Tamanha mudança se explica pela perda de capital político. Se em 2002 a sigla elegeu 84 deputados federais – a segunda maior bancada –, agora possui menos de um terço desse número de parlamentares.

A capilaridade da legenda, conhecida por abrigar oligarcas regionais, também se reduziu na mesma intensidade desde o início da gestão petista em 2003, quando a sigla passou pela primeira vez para a oposição. Atualmente, o Democratas administra apenas o Estado do Rio Grande do Norte, com Rosalba Ciarlini, e, entre as 200 maiores cidades do País, detém o comando de somente uma: Mossoró, no Rio Grande do Norte. Outro passo derradeiro para o processo de esfacelamento da legenda foi a criação do Partido Social Democrático (PSD), em setembro de 2011. Numa jogada política bem-sucedida, capitaneada pelo prefeito de São Paulo e ex-presidente do diretório paulista do DEM, Gilberto Kassab, quadros importantes do partido, como a senadora Kátia Abreu e o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, além de cerca de 25 deputados federais, desembarcaram no PSD rumo a uma aproximação com a base do governo federal.

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VELHOS TEMPOS
ACM personifica um período em que o DEM,
então PFL, exercia muita influência no governo federal

Segundo especialistas ouvidos por ISTOÉ, os prognósticos para o futuro do partido são desanimadores. O consultor político Gaudêncio Torquato, professor da Universidade de São Paulo (USP), avalia que, se a legenda continuar em voo solo, terá uma posição cada vez mais diminuta e ocupará um papel secundário no cenário eleitoral. O estudioso salienta que a melhor alternativa para o DEM seria uma união com o PMDB. Para Torquato, os dois partidos juntos formariam a maior bancada da Câmara, o que daria maior força em negociações com o Executivo. “O DEM vem do PFL, que era parte do PDS. Tem uma tradição de participar da base de sustentação dos governos federais”, explica Torquato. “Fundir-se com o PSDB esbarraria na pouca disponibilidade dos cardeais tucanos de cederem espaço em seus respectivos Estados para os quadros do Democratas”, analisa Torquato. “Além disso, eles permaneceriam distantes da perspectiva de poder, já que os cenários indicam a manutenção do PT na máquina federal”, complementa.

Em viagem à Europa para o encontro de líderes de centro-direita, o presidente do Democratas, senador José Agripino Maia (RN), negou com veemência à ISTOÉ a possibilidade de fusão entre o DEM e outras legendas. “Não existe o menor fundamento nessa história”, declarou. “Isso é coisa de quem quer desestabilizar o partido”, afirmou sem querer citar nomes. O parlamentar, no entanto, admite que a saída do senador Demóstenes Torres ajudou a alimentar o assunto. “Nós tomamos providências neste caso, assim como fizemos com o Arruda (ex-governador do Distrito Federal, acusado de desvios de dinheiro e de operar um esquema similar ao mensalão)”, afirma Agripino. Segundo o presidente do DEM, a legenda tem “grandes possibilidades” para o pleito deste ano. Os prognósticos, porém, revelam o contrário. Abatido em mais um escândalo e sem perspectivas de poder, o DEM agoniza em praça pública.

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