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EM BUSCA DA REELEIÇÃO
Nicolas Sarkozy cumprimenta militantes em Caen, Normandia

Na segunda-feira 9, foi dada a largada oficial da campanha eleitoral na França. Os candidatos à Presidência agora podem distribuir cartazes e veicular propagandas no rádio e na tevê. Mas o que deveria ser a fase mais eletrizante da disputa, com debates calorosos, trouxe as eleições para um patamar morno a poucos dias do primeiro turno, em 22 de abril. Nas rígidas regras do país, todos os dez candidatos (até os que não angariam nem 1% dos votos) têm direito a tempo igual de exposição. “Em vez de qualificar os discursos, essa regra os empobrece”, disse à ISTOÉ Justin Vaïsse, diretor da Brookings Institution. Some-se a isso uma situação econômica deteriorada, em que o espaço para promessas e alternativas criativas é limitado, e o que se tem é um quadro de desinteresse. “A moderação fez desta uma campanha entediante”, afirma Vaïsse. “O contexto agora é diferente do de 2007, quando Nicolas Sarkozy foi eleito com a promessa de ruptura e de implementação de reformas estruturais.” Cinco anos depois, é chegada a hora de Sarkozy enfrentar novamente o aval da população, mas, desta vez, carrega a alcunha de um dos presidentes mais impopulares da história.

Quando assumiu o cargo, o presidente francês planejava reduzir o desemprego para algo ao redor de 5%. O que ele não previu é que, no ano seguinte, tudo mudaria com o início da crise financeira nos Estados Unidos e o agravamento da dívida soberana na zona do euro. A França amarga hoje uma taxa de 10% de desocupados, dívida pública correspondente a quase 90% do valor das riquezas produzidas no país, produção industrial em desaquecimento e estagnação do crescimento. A humilhação derradeira veio em janeiro com o rebaixamento dos títulos do Tesouro pela agência Standard & Poor’s. Em relatório, o Thomas More Institute resumiu: “Nicolas Sarkozy entrou no Palais de l’Élysée como um reformador enérgico e determinado, mas a crise o transformou num apagador de incêndios.” Das reformas inicialmente propostas, o conservador avançou no corte de impostos e no aumento da idade mínima da aposentadoria (de 60 anos passou para 62). “Se não tivéssemos feito as reformas que fizemos, incluindo a das pensões, se gastássemos sem pensar, por que não iria acontecer conosco o que aconteceu com os outros?”, questionou Sarkozy, em referência à Grécia e à Espanha, durante entrevista a uma rádio francesa.

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FAVORITO
François Hollande lidera as pesquisas para o segundo turno

A cutucada era direcionada a seu principal opositor, o socialista François Hollande, líder nas pesquisas de opinião desde o ano passado. Hollande tem proposto o aumento dos impostos aos milionários, a ampliação dos direitos sociais aos imigrantes, a manutenção da quantidade de funcionários públicos e a contratação de 60 mil novos professores. Mas, embora sejam ideologicamente opostos, a crise tem aproximado as propostas dos principais candidatos em relação à economia e à disciplina fiscal. Isso explica a popularidade dos candidatos radicais, tanto de esquerda quanto de direita. “Seus programas propõem medidas extremistas, completamente irresponsáveis, porque desconsideram a situação econômica do país”, afirma Vaïsse. O esquerdista Jean-Luc Mélenchon propõe confiscar toda a renda individual acima de 360 mil euros por ano e aumentar os gastos públicos em mais de US$ 150 bilhões. Nos últimos dois meses, sua participação nas pesquisas praticamente dobrou. No mesmo patamar ao redor de 15%, aparece a ultradireitista Marine Le Pen, que propõe um corte de 95% no número de imigrantes. Sua popularidade é especialmente alta entre os eleitores jovens, que veem os estrangeiros como concorrentes para as poucas vagas do mercado de trabalho.

Se as previsões das pesquisas se confirmarem, François Hollande deve ser eleito presidente no segundo turno, marcado para 6 de maio. O ponto delicado dessa escolha ficaria para a parceria com a chanceler alemã Angela Merkel. Pouco afeitos entre si, Hollande e Merkel têm discordâncias. Ao contrário do gesto diplomático de 2007, quando se encontrou com a candidata socialista Ségolène Royal, Merkel, desta vez, se recusou a receber Hollande. Logo após a assinatura do pacto fiscal de Bruxelas, em janeiro, o candidato francês criticou a falta de soluções para a retomada do crescimento da economia e sinalizou que, se eleito, buscaria uma renegociação. “Eu sei que essa posição não é compartilhada por todos na Europa”, afirmou Hollande. “Além de estabilizar os preços e lutar contra a especulação, temos que agir pelo crescimento, o que é missão do Banco Central Europeu.”

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