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O novo filme do cineasta carioca José Padilha, 41 anos, vai se chamar "Nunca Antes na História deste País". O título é uma frase muito repetida pelo presidente Lula no início de seus discursos e a escolha soa como uma provocação, já que o tema será a corrupção política no Congresso Nacional durante o atual governo. Padilha acredita que essa é uma forma de o cinema contribuir com a denúncia de desmandos públicos.

"Há uma conexão direta entre a corrupção em Brasília e o tiroteio na favela. As histórias e personagens amarrarão esse enredo", diz ele, de olho em mais uma mazela brasileira. Saído da Faculdade de Física da PUC, no Rio de Janeiro, é fascinado por matemática e lógica e encontrou na chamada "teoria dos jogos", que analisa situações de conflito, uma forma de lidar com a dramaturgia.

Padilha aplica esse modelo matemático na criação de seus enredos e pretende repeti-lo no novo trabalho. "Essa teoria tem um mecanismo mais sofisticado para pensar os processos sociais do que as teorias marxistas. Além de não trazer embutida nenhuma moral", diz ele. Ao aplicar o método em "Tropa de Elite", causou muita polêmica. "Provoca a classe média? Era para provocar mesmo. Mostro o óbvio ululante.

O problema é que o espectador se identifica e fica com raiva. Vê-se como culpado pelos problemas de segurança pública." Esse mesmo pragmatismo aparece no documentário "Ônibus 174": "Fiz o caminho inverso. É o mesmo tema da violência sob a ótica de um menino de rua que se transformou no seqüestrador do ônibus."

No documentário "Garapa", atualmente em cartaz, ele mostra o cotidiano de quatro famílias famintas na zona canavieira do interior do Ceará. Nesse caso, sua precisão metodológica foi abalada por um impasse ético: "Não podia dar comida às famílias porque se desse não conseguiria filmar o que queria: como a pessoa lida com a fome." Depois de ganhar o Urso de Ouro no Festival de Berlim, Hollywood passou a cortejá-lo. Ele elaborou um roteiro para a Plan B, produtora de Brad Pitt, e vai dirigir dois outros filmes nos EUA. No Brasil, "Tropa de Elite 2" já é tido como certo. Tudo agora depende de Wagner Moura.

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