A próxima, que provavelmente não será a última, ocorrerá na Unesco, o organismo da ONU responsável por atividades nas áreas de cultura, ciência e educação. Em ambos os casos, o motivo é o mesmo. Nos últimos anos, o Itamaraty tem subordinado suas escolhas a interesses menores, mesquinhos e até pessoais.

Ao cargo da OMC, essencialmente técnico, a ministra Ellen Gracie, do Supremo Tribunal Federal, não foi indicada em razão de suas qualificações sobre um tema tão sensível, mas sim para que pudesse abrir uma vaga no STF a mais um apadrinhado do presidente Lula. À vaga de diretorgeral da Unesco, o Itamaraty decidiu preterir o brasileiro Márcio Barbosa em favor do egípcio Farouk Hosny, com a justificativa marota de que o Brasil precisa estreitar seus laços com os países árabes. Amorim chegou até a dizer que uma vitória de Barbosa, numa disputa em que é franco favorito, colocaria em risco a candidatura do Rio de Janeiro à Olimpíada de 2016, na qual o Brasil é apenas um azarão. E o que se comenta nas rodas diplomáticas é ainda mais grave: o próprio Amorim teria o desejo de ocupar a vaga da Unesco daqui a dois anos, após o fim do governo Lula. Portanto, a vitória de um brasileiro neste momento, ainda que interesse ao País, não interessa ao chanceler.

As trapalhadas do Itamaraty não se limitam às indicações aos cargos dos organismos internacionais. Nesta semana, estava prevista a inauguração da embaixada brasileira em Pyongyang, na Coreia do Norte. Mais uma brilhante ideia de Amorim, que teve de ser suspensa após as ameaças do ditador Kim Jong-il de iniciar uma nova hecatombe nuclear, jogando bombas atômicas sobre a Coreia do Sul – este sim um parceiro do qual o Brasil deveria se aproximar. O chefe do Itamaraty é também um ardente defensor do ingresso da Venezuela no Mercosul, apesar das evidências de que Hugo Chávez se converte rapidamente num autêntico ditador, sem respeitar o mais elementar dos direitos econômicos: o de propriedade.

Apesar de todos os erros, Amorim conta com uma boa dose de sorte. O redesenho da ordem econômica global, que hoje cria um mundo pós-americano, favorece os países emergentes, especialmente o grupo dos BRICs. Mas o Brasil seria um interlocutor mais respeitado na cena internacional se o Itamaraty determinasse com seriedade – e não com politicagem – as suas escolhas.